Nesse
momento, nada me é mais triste do que quando o cachorro a família, aquele que
abaixo do pai cuida de nossa segurança e nos alegra com sua alegria infinita,
começa a morrer.
É
sempre assim: o cão adoece, na correria do dia-a-dia, a gente custa a perceber,
e a cada dia o latido soa mais fraco, e o abanar do rabo vai ficando mais
lento, o andar fica descontrolado, e o olhar fica parado. Ai você percebe que
ele não tá bem, e talvez por infelicidade, já é tarde.
Ao
receber uma amiga em casa outro dia, notei meu cão amuado num cantinho. Chamei
e ele custou a responder. Olhei pros seus olhos, que pareciam dois vidros.
Aquele olhar que até ontem, ou anteontem, ou semana passada, não lembro,
carregava alegria, hoje olha para um ponto no vazio, procurando ali no nada
forças para levantar e seguir à diante. O olhar em busca de algo que se quer
sabe o que é.
Quando
o cão envelhece, e a morte chega um pouquinho a cada dia, nosso coração morre
em pedacinhos junto, afinal, no meio de 100 pessoas nós podemos experimentar a
solidão, mas se permitimos que um cão se aproxime de nós, se depender dele,
nunca saberemos o que é solidão. Nunca seremos sozinhos.
E
o temido dia chega. Você deve escolher se o seu amigão será sacrificado para
manter a família à salvo ou se você prefere medica-lo e deixar que a natureza
leve-o na hora que achar melhor. É o pensar em sua dor ou na dor dele; é o
satisfazer-se ou satisfazer o cão: mas alguém sofre, e alguém morre.
Ao
olhar pela janela agora para o meu cão deitado no seu puxadinho, vejo Trovão me
olhando com os olhos parados, um olhar vazio, triste, que doe-me a alma. Ele me
olha esperando que eu faça o que já não pode ser feito. De mim, cai no calor da
cama as lágrimas de impotência, e dele, cai as gotas de sangue resultado de um
nariz ressecado de tanta febre, febre essa que remédio algum parece ser capaz
de curar.
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