Dias
corridos tem sido esses. Não que eu esteja ocupado demais, ao contrário, ando
parado demais, pensando no que devia fazer, desejando que o relógio marque logo
22 horas para dormir, antes que eu arrume algo para, de fato, fazer.
O
tempo até tem sido bondoso comigo. Apesar de correr sempre na mesma velocidade,
tem demonstrado certa compaixão em me alertar que preciso fazer algo antes que
ele resolva me cobrar o peso de ser velho; mas eu não me importo. Eu não quero
a bondade do tempo. Quero é momentos eternos, por mais que não durem mais que
um segundo.
Não
me importo morrer com 25 anos, desde que leve em minha alma o alivio das
alegrias, e a realização doe meus simples sonhos, porque, muitas vezes, somos
alimentados somente por um passado e impulsionados à um futuro esperando que aconteça
algo. Mas o ontem já foi futuro um dia, e o amanhã logo será passado.
Mais
do que sentar e esperar passar, eu devia levantar e passar junto, mas não. Está
tudo bem ficar parado aqui. O que talvez não entendam é que o meu silêncio é o sinal
do turbilhão de coisas que se passam dentro de mim. São gritos desesperados de
socorro, mas o Tempo socorre alguém? O meu silêncio não tem tempo, espaço, e é
do tamanho dos gritos de socorros das pessoas que estão emergidas em suas
cadeias que foram gentilmente doadas por uma sociedade “santa” e comum, correta
e conservadora, que escolhe o certo e o errado, faz o padrão do gordo e do
magro, do rico e do pobre, do normal e do doente. Impõe seu padrão a qualquer
preço, mesmo que esse preço seja a liberdade.
Porque
estender esse tempo a mais de 25 anos? Para ouvir que eu devo casar e ter
filhos? Eu não cuido nem de mim. Do jeito que ando precisando de colo, sou
incapaz de dar colo a alguém. Porque alimentar mais tempo ao sofrimento e
incompreensão, enquanto assisto de camarote a intolerância exposta em cada
esquina do mundo? Estender tudo isso a espera de um amor que não vem, e se
vier, será no desespero de ficar velho e sozinho. Mas no final, estaremos
velhos e sozinhos. Quando a alma deixa o corpo e vai por ai, estaremos sozinhos
vagando pelos vales até alcançar o que deve ser alcançado. Porque estender a
vida de ilusões e esperar ter um livro publicado, ou melhor, estender a vida
tentando escrever um livro?
Tudo
é comum. Tudo é igual. É só uma questão de interpretação.
No
final vai restar eu e o tempo que passou 70 anos desde a tarde de 1996 que eu vim
ao mundo, e 45 desde a noite em que eu devia ter deixado minha alma voar. E
estarei num asilo público, pensando em como o tempo passou. E culparei o tempo,
mas ele me deu possibilidades. Ou então estarei num outro corpo, com uma nova
história a salvar, vivendo outro tempo.
Bem,
já são 22:05 hrs, já passou da hora de dormir, não posso perder tempo de sono.
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