domingo, 31 de agosto de 2014

A futura nostalgia do eu com o tempo

Dias corridos tem sido esses. Não que eu esteja ocupado demais, ao contrário, ando parado demais, pensando no que devia fazer, desejando que o relógio marque logo 22 horas para dormir, antes que eu arrume algo para, de fato, fazer.

O tempo até tem sido bondoso comigo. Apesar de correr sempre na mesma velocidade, tem demonstrado certa compaixão em me alertar que preciso fazer algo antes que ele resolva me cobrar o peso de ser velho; mas eu não me importo. Eu não quero a bondade do tempo. Quero é momentos eternos, por mais que não durem mais que um segundo.

Não me importo morrer com 25 anos, desde que leve em minha alma o alivio das alegrias, e a realização doe meus simples sonhos, porque, muitas vezes, somos alimentados somente por um passado e impulsionados à um futuro esperando que aconteça algo. Mas o ontem já foi futuro um dia, e o amanhã logo será passado.

Mais do que sentar e esperar passar, eu devia levantar e passar junto, mas não. Está tudo bem ficar parado aqui. O que talvez não entendam é que o meu silêncio é o sinal do turbilhão de coisas que se passam dentro de mim. São gritos desesperados de socorro, mas o Tempo socorre alguém? O meu silêncio não tem tempo, espaço, e é do tamanho dos gritos de socorros das pessoas que estão emergidas em suas cadeias que foram gentilmente doadas por uma sociedade “santa” e comum, correta e conservadora, que escolhe o certo e o errado, faz o padrão do gordo e do magro, do rico e do pobre, do normal e do doente. Impõe seu padrão a qualquer preço, mesmo que esse preço seja a liberdade.

Porque estender esse tempo a mais de 25 anos? Para ouvir que eu devo casar e ter filhos? Eu não cuido nem de mim. Do jeito que ando precisando de colo, sou incapaz de dar colo a alguém. Porque alimentar mais tempo ao sofrimento e incompreensão, enquanto assisto de camarote a intolerância exposta em cada esquina do mundo? Estender tudo isso a espera de um amor que não vem, e se vier, será no desespero de ficar velho e sozinho. Mas no final, estaremos velhos e sozinhos. Quando a alma deixa o corpo e vai por ai, estaremos sozinhos vagando pelos vales até alcançar o que deve ser alcançado. Porque estender a vida de ilusões e esperar ter um livro publicado, ou melhor, estender a vida tentando escrever um livro?

Tudo é comum. Tudo é igual. É só uma questão de interpretação.

No final vai restar eu e o tempo que passou 70 anos desde a tarde de 1996 que eu vim ao mundo, e 45 desde a noite em que eu devia ter deixado minha alma voar. E estarei num asilo público, pensando em como o tempo passou. E culparei o tempo, mas ele me deu possibilidades. Ou então estarei num outro corpo, com uma nova história a salvar, vivendo outro tempo.


Bem, já são 22:05 hrs, já passou da hora de dormir, não posso perder tempo de sono.

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