segunda-feira, 15 de setembro de 2014

Sou inocente

Minha pele arde. Há em minha pele, saturada por melanina, marcas que ninguém vê mas eu vejo.

Disseram que fariam justiça, mas a justiça é nesse momento eu sentir o ardor causado pelo contato forte e dolorido da correia de meu pai, formando vergões roxos?

Porque estou apanhando, Deus? Já não basta o peso que eu carrego junto a meu povo, hoje estou sendo condenado ao castigo por algo que eu nem sei o que é, isso é a justiça Deus?

Ela sabia Deus, ela sabia que eu era inocente e só fez algo, porque queria que as coisas ficassem limpas para ela. Mas e as marcas? Qual o remédio para curar as marcas?

Retiraram o B.O., mas esses vergões ninguém tira. A lágrima de vergonha da minha mãe ninguém tira. Ninguém retira de mim o peso da repressão.

Quem são esses homens? Quais são essas perguntas? Porque estão me levando? Que mãos são essas? que gritos são esses? porque minha mãe está me deixando aqui? porque não posso sair? cadê minha liberdade, porque estão rindo, eu não sou teatro, eu era plateia e agora tenho meu show, mas se quer estudei para ser ator.

Minha angustia ninguém retira, e nem a dúvida dos que não acreditam em mim. As pessoas choram ao ouvir minha história, mas eu não queria vê-las chorando, não queria nem que isso tivesse acontecido.

Olha para mim Deus, olha minha alma, cadê minha dignidade?

Faço agora Let it be minha oração, e vem interceder por mim Mãe Maria. Vem tirar a tristeza da minha mãe, e permita que ela veja meu coração, Mãe Maria.


Ao menos, todos estão do meu lado, e pelo grito dos que agora me chamam Irmão estou sendo reestruturado. Agora, ela nem me olha mais, mas nunca olhou. Deve acreditar no discurso de Hitler em que ele dizia que os brancos são melhores que os negros, só Mãe Maria, que ela não conhece a riqueza de minha alma, e a cada grito de repressão dela, faz com que eu e meu povo sonhemos mais em ser livres.

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