Diante
do tempo que passa, somos como barquinhos sem autonomia no meio do mar, sendo
conduzidos pelo vento que sopra para lá e para cá, como numa dança num dia
qualquer. O tempo é uma dádiva, e me perdoem, mas não sei o significado de
dádiva, e o uso de palavras difíceis e incomuns nessa definição não ilustram o
posicionamento controversos das pessoas diante do tempo: ora aproveitando cada
segundo, ora questionando sua lentidão, ora deixando os dias irem sem rumo para
um lugar qualquer.
Diante
da vida que vem e que vai, da vida que agracia-nos com o nascimento e nos corta
em pedaços com a morte, diante da vida que une e separe, estamos sempre
correndo atrás de um motivo, um sentido para as coisas. Estamos sempre atrás de
recompensas, de quantidade, de momentos inesquecíveis, de fidelidade. E quando
isso não vem, perdemos o controle das coisas, e como já diz minha mãe, “feliz
do que chora na cama, que é um lugar quente”.
Na
busca por um sentindo para viver, colocamos em primeiro lugar aquilo que
devemos alcançar e esquecemos de nós mesmos. Traímos nossos corações por nossas
ambições, e traímos pessoas para nos sentirmos mais completos. Porém, que
sentido é esse que para existir requer tanto esforço, e então percebemos que
não há um sentido para viver.
Quão fútil é a sensação de quando pensamos que
não existe um motivo pelo qual existimos. É estranho acordar numa bela manhã de
sol e ver que na rua todos tem uma existência grande, ver que no dia todo,
pessoas veem seus celulares entupidos de mensagens e ligações de pessoas que as
amam, e de tanto que seu celular é silencioso, você até esquece que ali está
logo ali, no seu bolso. Em quantos momentos, acreditamos que todo o ar que
respiramos é em vão e consideramos ser uma injustiça da Vida que haja alguém
numa cama de hospital com tanto folego de vida em sua alma e está tão próximo da
morte, e nós aqui: fortes saudáveis e com o folego de vida da alma tão baixo ou
até inexistente.
Diante
da vida, somos eternos aprendizes da arte que ninguém copia. Aprendemos coisas únicas
que nos faz únicos, e tolo é aquele que tenta mudar o ciclo natural para se
enquadrar em algum padrão, para ser mais aceito, ou ver o celular cheio de
mensagens. Quantos homens se tornam estranhos em seus corpos e se perdem no
caminho que eles traçaram. Triste é o homem que se perde dentro de sua casa. De
tanto desdenhar ser como o outro ele esquecerá a cor das paredes do quarto, e
não se lembrará da textura dos lençóis.
O
tempo rastejava quando eu era menino. Aos 15 anos, percebi que como um carro
descendo uma ladeira, aos poucos ele ia ganhando velocidade, e hoje, ele parece
um corredor campeão da São Silvestre. Queria um equilíbrio, mas parece que
estou numa caverna há meses, e por mais que digam que não, isso não é tão bom.
O tempo tem passado eu tenho crescido e amadurecido, mas me tornei estranho
dentro da minha própria casa. Não posso, não podemos nos dar o luxo de
experimentar a felicidade somente quando algo extraordinário acontece e nem
acreditar que na tranquilidade seremos mestres na arte do viver, pois o melhor
piloto Náutico não é dado por quantas horas ele navega e sim, quantas turbulências
ele enfrentou e saiu vivo. É isso que a vida quer de nós: que sejamos
navegantes sem medo das turbulências do tempo.
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