A vida que vai, a idade que
chega, as consequências que se amontoam com o passar dos anos. Os jovens veem
os velhos carregar o peso de suas extravagancias de uma vida sem limites, mas
por sorte ou revés, não lhes intimida viver cada minuto, como se fosse o
último.
Regrar o agora para um amanhã
indolor ou aproveitar o dia de hoje intensamente, e ser insano? Deixar as consequências
para ser pesadas quando chegarem, se chegar?
Dias atrás, conheci um homem que
se descobriu hepático. Ele disse que a doença é fruto de complicação de uma
tatuagem, no braço, feita 33 anos atrás, em uma época que era detento penitenciário.
O desenho era comum, que não me encantou os olhos, não me pareceu ter qualquer
sentido, estampado ao fundo de uma pele dourada pelos bons anos do árduo trabalho
braçal, debaixo do sol que ora era quente por demais, ora nem chegava a acordar.
Enquanto ele relatava sua
história, não pude captar arrependimentos por parte dele. Pelo contrário, ele transparecia
conformidade conforme tudo aquilo que vivia. Fiquei imaginando o quanto ele
deve ter ostentado aquelas imagens em suas noitadas pelos bares e cabarés,
quantas mulheres aquela marca artificial em seu corpo não foi capaz de
trazer-lhe. Quanta curtição algumas gotas de tinta não o trouxe por anos, e
hoje, ameaça sua vida. Como ele mesmo se julga, “estou no corredor da morte”.
Não é mais velho do que 55 / 56 anos.
As pessoas ouvem sua história e
em sua ausência comentam que o homem é um coitado. Eu queria que alguém perguntasse
a ele: “Vê problema em morrer nessa idade?”. Questiono se ele quer mesmo morrer
jovem, mas talvez ele esteja pronto para lidar com a auto perda.
Desde que sabemos aproveitar nossos
momentos de glória, e estejamos em busca da imortalidade de nossas experiências
e lembranças das noites bem dançadas, sem nunca esquecer de que somos
protagonistas do nosso destino todos os dias, à todo e qualquer tempo,
independente do espaço, não vejo problemas em enfrentar no futuro as consequências
de um passado agitado.
Nós sofremos porque encaramos os
dias como sofrimento. Somos auto programados para pensar que a dor física
causada por uma doença é sofrível, e acreditamos sempre que a morte é o fim de
tudo. Estamos ligados ao pensamento do ciclo, que aqui se inicia e termina.
Esquecemos no decorrer dos dias, das promessas de um tempo melhor que
aprendemos na igreja, e do conceito imortal do conjunto alma/espirito. Tornamo-nos
íntimos do ciclo comum do tempo. Da história que se repete. Sabemos que devemos
ter fé nas divindades, mas queremos ser heróis de nossas próprias existências.
E sempre querer dar uma ajudinha pra Deus.
Não se pode culpar os velhos
pela juventude bem vivida, do modo certo ou errado, e nem querer que os jovens amansem
sua adrenalina para que sejam velhos saudáveis. Temos é que mudar o modo de
enxergar as coisas, priorizando a felicidade, a vida exuberante, o modo chique
de ficar acordado durante a noite, sem querer cobrar do outro o peso do arrependimento.
Só podemos viver.
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