domingo, 5 de abril de 2015

É isso.

Esse é um pedido de ajuda. Não do tipo de cartas que os empregados escravizados da indústria chinesa escrevem e colocam num brinquedo visando serem salvas, ou, algo que algum protestante possa me prometer ser ajudado na igreja, porque é algo que está acima de toda a ajuda externa, é algo que só cabe a mim mudar. Tenho que ser meu herói.

Não sei como estou, onde estou e para onde vou. Estou matriculado e frequentando um curso de graduação por precisar único e exclusivamente das vantagens que aquela titulação me trará, e trabalhando por precisar de dinheiro, comprando roupas por acreditar que as outras estão velhas, tomando banho por acreditar nas regras básicas de higiene, e bebendo para afogar tudo isso. Mas eu não quero que falem que é besteira beber muito, que eu estarei me autodestruindo, porque isso eu sei. Eu não quero que me falem nada. Já conquistei muito do que eu queria, e hoje não sei mais sonhar. Não há o que me move, a não ser a lei da obrigação. Eu sei das palavras que me dirão, e os caminhos que eu devo procurar, mas não, me deixa aqui, mas não me abandone. Eu preciso de forças boas e afetos, e eu gosto que me perguntem como estou, mas saibam que não estou de modo algum de algum modo. Eu estou vivendo empurrado.

Amanhã mesmo eu começo a trabalhar num trabalho que tive sorte ao conseguir, outras pessoas mandaram seus currículos e seja por destino ou má sorte, mal tiveram oportunidade de se apresentar, e não foram chamadas. Mas sabe quando o que te move é o aquilo vai te acrescentar enquanto profissional, as observações que poderão ser feitas, estratégias construídas, teoria ser posta em prática. Mas nada além disso.

Tempos atrás tudo parecia mais fácil. Apesar do desespero, tudo parecia mais fácil. Mesmo quando eu pus na cabeça que serviria as forças armadas, eu tinha um sonho, um ponto para chegar, eu tinha um objetivo e hoje nem isso. Eu olho meus amigos da minha idade, correndo contra o tempo, tendo em mãos suas cartas de habilitação, se desdobrando em um dia exaustivo de trabalho, estudando a noite, tirando tempo para o Inglês aos sábados e eu fico feliz por eles, e torço que se deem bem na vida, mas fico aqui. Vendo os dias passarem e minha pauta vencer em setembro, traduzindo textos no Google Translate, e por mais que devesse doer, não dói. A dor é outra. Estou me tornando fútil. As coisas estão perdendo o sentido e ando fazendo-as para que eu tente ser seguro de mim, de modo que não atrapalhe ninguém, mantendo uma imagem que não é minha.

Sem sonho, sem sentido, sem esperança. Escrevia por sentir as palavras borbulhando na minha mente, e vou parando aos poucos por cada vez mais, conseguir explicar menos o que sinto. O que está acontecendo, Deus? Na noite passada estive com meus amigos, uma chance linda de fazer com que as coisas estivessem lindas entre nós, mas apesar de eu querer me entregar totalmente a eles, e de estar mais próximo do que nunca estive, havia uma barreira, e eu não conseguia sorrir. A lua brilhava pelo céu, e a mesa estava cheia, mas não pude experimentar a felicidade por um momento. Não me pergunte o motivo, e se souber me diga, também quero saber.

Não é solidão, porque só é sozinho aquele que não tem a si. Não é depressão porque apesar do descontrole, eu consigo ir. Bipolaridade, não, porque me mantenho estável. Boderline também acredito que não seja porque não sofro ataques de fúria. Talvez seja falta da vida que me passa a beira e eu fujo dela, me escondo entre os arbustos da floresta da segurança, da falsa segurança.  Existem expectativas a serem supridas, existe uma vida a ser vivida, e não, não estou em desespero, nem a beira do suicídio, só estou num canto amuado, como o menino que perde seu cão, e meu cão era o que me movia. E o que era de fato meu cão? Não sei. Não há um motivo, ou talvez haja 500 milhões de motivos, mas eles se tornaram obsoletos diante da ideia de que a vida é só um pedaço no tempo. O que são 80 anos, tempo que uma pessoa vive em média, visando que a origem do mundo se perde na teoria dos bilhões de anos a fora?

Essa é uma carta que torno publica por respeito aos que gostam de mim, que torcem por mim, e eu me sinto angustiado vendo-os me perguntando coisas sérias e eu respondendo com kkkk ou as vezes esquecendo de responder. Não é que eu não quero fazer algo, não é que eu não queria falar com vocês, pelo contrário, vocês são tudo pra mim, e família e amigos são tudo que eu tenho agora, porque aquilo que fogo não pode queimar é o que me resta, e aquilo que há entre nós chama alguma destrói. Nós somos nossa chama.


Esse é um pedido de ajuda. Essa é uma carta que guardarei embaixo do travesseiro e lerei todas as vezes que deitar na cama, e irei chorar todas as vezes, cada vez mais, por ser a única vez que cheguei o mais perto possível de tentar explicar e entender aquilo que se passa aqui dentro. É uma confusão minha, e eu não sou capaz de desfazê-la.

Nenhum comentário:

Postar um comentário