sábado, 21 de março de 2015

Você é parte do processo

A vida é um processo. Tudo precisa de um tempo para acontecer. Acordar é um processo que começa com o soar do alarme do despertador a estar totalmente desperto. Levantar começa com o movimento do corpo contra a força da gravidade, o esticar das pernas, o colocar os pés no chão, o impulsionar o corpo para frente. Escovar dentes é um processo que depende de um fato passado, de alguém ter comprado o creme dental no supermercado. O creme dental na prateleira depende de vários processos. Alguém tem de ter criado a fórmula, outro alguém feito o pedido das matérias primas, outro alguém feito a dosagem certa de cada substancia, e ai, outra pessoa ter controlado o processo de produção, e aí teve um cara que cuidou do embalar, um grupo de pessoas colocaram em caixas unitárias, uniu tudo aquilo num grupo de seis e colocou num plástico envolto em comum. Posteriormente colocou os grupos de seis em caixas, as empilhou, uma empilhadeira pegou as caixas e levou para o caminhão. O caminhão levou da fábrica para o supermercado, onde alguém recebeu a carga. Outro conferiu. Outro abriu caixa por caixa, desfez grupo por grupo e colocou creme dental por creme dental na prateleira. Alguém em sua casa comprou, e você ao exercer o acordar, o levantar, teve êxito no processo de escovar os dentes. Mas, e se alguém não compra o creme dental ou se não criam a formula do creme dental, como você higienizaria seus dentes?

Tudo demanda tempo. Tudo é um processo. Um creme dental é o exemplo mais simples disso. Há a hora da fabricação, transporte, compra e consumo. E se não se fabrica, ou se não se transporta, ou se não se compra? Do início ao fim existe uma construção. E apesar desse conceito resumir aquilo que fazemos aqui na Terra, estamos perdidos ante às nossas construções.

Seja por tudo rápido demais, ou pelos significados cada vez mais questionáveis, não estamos tendo sucesso quanto ao nosso produto final. Na ânsia de ser feliz, experimentamos a infelicidade. Da ânsia de saber, recorremos a ignorância. Na ânsia de amar, acabamos sentindo ódio. Talvez seja porque queremos coisas grandes demais. Olhar para alguém que mudou o mundo e seu caminho de modo tão profundo, e me analisar como alguém que não contribuiu para algo melhor, dá um desespero. E na tentativa de acertar, eu erro. Por querer ser ouvido, eu não escuto. Por querer viver, eu me mato. Por querer fazer, não faço. Por querer ser reconhecido, menosprezo. Por querer mudar, permaneço. Por querer ser igual, não sou nada. E por querer levantar, caímos.

Tudo há um porquê. Não poderia ser eu responsável pelo creme dental. Nem pelo transporte dele até o supermercado. Nem quem propôs o metro como unidade de medida. Mesmo que o que eu faça não melhore a vida das pessoas, de algum modo, o que eu fizer vai alcançar todas elas. Tudo é uma construção. E como uma casa, que nunca é igual a outra, como dois ângulos que por mais que possuam a mesma medida jamais serão iguais, experimentarei a construção única.


O tempo tem parecido curto porque insistimos em fazer aquilo que não devemos. Quando deveríamos estar batalhando por algo, insistimos em ficar parados. Quando devemos estar parados, insistimos em estar em movimento. Por isso o dia é longo, e a noite é curta. Só quem já se debruçou sobre um projeto na madrugada entende que o ritmo de trabalho não acompanha o tempo do relógio. Esse horário não é nosso. É preciso parar e revisar. Uma revisão de almas. Minuciosa. Verificando as condições de nossas bases. Quem sabe já não são mais válidas, e é hora de mudar o rumo? Se não houvesse o porquê de construir nossa estrada, de ter nosso cantinho no mundo, não haveria o creme dental, que é a arte de alguém. E o mundo seria um pouco mais incompleto. Se estivermos no rumo certo dispostos a fazer nosso papel, faremos das coisas um pouquinho mais completas. Levanta e vai, tá faltando sua peça no quebra-cabeça.

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