terça-feira, 26 de maio de 2015

Vida de temporadas.


Tudo hoje parece ter uma data de validade. Tudo dura todo o tempo possível: seis meses, um ano, dez anos, vinte e três anos e quatro meses, mas nunca é pra sempre. Engraçado que a expressão “válido por tempo indeterminado” só é encontrada na embalagem de materiais derivados do petróleo, e as pessoas precisam delas tão mais perto, num sentido tão menos concreto.

O amor tem validade. A amizade tem validade. O emprego dos sonhos tem validade. A casa dos sonhos tem validade. E, por consequência, o amor tem fim. A amizade antes real e inseparável se torna fria e sem cores e tem fim. Você é demitido ou acaba pedindo demissão. A casa começa a ruir e caí, ou você tem de vendê-la para cumprir o mandado judicial de divisão igualitária dos bens.

Quem suporta essa vida de temporadas? Quem suporta ter um dia e não ter mais amanhã? Quem suporta ser amado seis meses e passar toda a eternidade sentindo falta do amor que se foi, sentindo a cama vazia, sentindo a casa vazia. Que coração acostumado ao barulho suporta os dias sem-fim de silêncio? Que alma acostumada a vagar acompanhada pelo vale das luzes suportará no final estar sozinha na escuridão de uma casa ruída?

Quem se acostumará com o vazio? No silêncio de sua casa, o vizinho parece fazer barulho demais. Quem se acostumará com a solidão? No silêncio das tardes de domingo, as vistas do vizinho pareceram mais animadas do que nunca. Quem se acostumará com a saudade? Com a sensação de perda, com a sensação de impotência, com a vontade de ter e não poder mais, me diga quem, quem poderá encontrar a luz de seus dias em algum lugar, se já se acostumou a encontrá-la no brilho do olhar de alguém?

Não suporto essa vida de temporadas. Essa coisa de ser por pouco tempo. Essa coisa de ter por pouco tempo. Porque o “para sempre” dura vinte anos mas não dura o eterno? Porque o amor não aprende a ser como a fênix e renascer das cinzas sempre que precisar. Porque as promessas têm de ser quebradas? Porque pessoas morrem? Porque há o fim? Porque há o flop? Porque a felicidade é complexa, e eu tenho de ouvir esse milhão de palavras na minha cabeça dando cambalhotas? Porque tenho medos e incertezas?

Porque não arrumo uma companhia para trocar beijos, discutir Caetano, declamar Vinícius, debater sobre Capitalismo x Comunismo, ir pro bar tomar cerveja e depois dormir tão agarrados que se dispensará a cama de casal? Na companhia seremos um só. No juntinho moraremos um dentro do outro. Quero um amor, mas não de temporadas. Quero uma vida, só que não de temporadas. Quero uma vida de certezas e 'para sempres'. Quero dias sem-fim seguidos de beijos sem fim, leituras sem fim, tendo como produto final felicidade sem-fim.


Quero ser eu mesmo, quero ser amado, e quero uma vida.

Um comentário: