Tudo
hoje parece ter uma data de validade. Tudo dura todo o tempo
possível: seis meses, um ano, dez anos, vinte e três anos e quatro
meses, mas nunca é pra sempre. Engraçado que a expressão “válido
por tempo indeterminado” só é encontrada na embalagem de
materiais derivados do petróleo, e as pessoas precisam delas tão
mais perto, num sentido tão menos concreto.
O
amor tem validade. A amizade tem validade. O emprego dos sonhos tem
validade. A casa dos sonhos tem validade. E, por consequência, o
amor tem fim. A amizade antes real e inseparável se torna fria e sem
cores e tem fim. Você é demitido ou acaba pedindo demissão. A casa
começa a ruir e caí, ou você tem de vendê-la para cumprir o
mandado judicial de divisão igualitária dos bens.
Quem
suporta essa vida de temporadas? Quem suporta ter um dia e não ter
mais amanhã? Quem suporta ser amado seis meses e passar toda a
eternidade sentindo falta do amor que se foi, sentindo a cama vazia,
sentindo a casa vazia. Que coração acostumado ao barulho suporta os
dias sem-fim de silêncio? Que alma acostumada a vagar acompanhada
pelo vale das luzes suportará no final estar sozinha na escuridão
de uma casa ruída?
Quem
se acostumará com o vazio? No silêncio de sua casa, o vizinho
parece fazer barulho demais. Quem se acostumará com a solidão? No
silêncio das tardes de domingo, as vistas do vizinho pareceram mais
animadas do que nunca. Quem se acostumará com a saudade? Com a
sensação de perda, com a sensação de impotência, com a vontade
de ter e não poder mais, me diga quem, quem poderá encontrar a luz
de seus dias em algum lugar, se já se acostumou a encontrá-la no
brilho do olhar de alguém?
Não
suporto essa vida de temporadas. Essa coisa de ser por pouco tempo.
Essa coisa de ter por pouco tempo. Porque o “para sempre” dura
vinte anos mas não dura o eterno? Porque o amor não aprende a ser
como a fênix e renascer das cinzas sempre que precisar. Porque as
promessas têm de ser quebradas? Porque pessoas morrem? Porque há o
fim? Porque há o flop? Porque a felicidade é complexa, e eu tenho
de ouvir esse milhão de palavras na minha cabeça dando cambalhotas?
Porque tenho medos e incertezas?
Porque
não arrumo uma companhia para trocar beijos, discutir Caetano,
declamar Vinícius, debater sobre Capitalismo x Comunismo, ir pro bar
tomar cerveja e depois dormir tão agarrados que se dispensará a
cama de casal? Na companhia seremos um só. No juntinho moraremos um
dentro do outro. Quero um amor, mas não de temporadas. Quero uma
vida, só que não de temporadas. Quero uma vida de certezas e 'para
sempres'. Quero dias sem-fim seguidos de beijos sem fim, leituras sem
fim, tendo como produto final felicidade sem-fim.
Quero
ser eu mesmo, quero ser amado, e quero uma vida.
tão lindo que até chorei!! <3
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