quarta-feira, 11 de novembro de 2015

Pedaços de infância.

Nunca fui de muitos amigos. Apesar de minha extroversão quase assumida, sou um tanto na minha, e me soa superficial assumir isso, mas as vezes tenho aversão a sociabilidade. Dos poucos momentos que recordo da minha infância que usurpei com a preocupação precoce de crescer, me lembrei hoje de manhã do dia em que contei pro Marquinhos, no primeiro ano do Fundamental, que eu tinha anemia (eu nem sabia o que era anemia. Pessoas tem anemia o tempo todo, mas eu tinha sete años, e quando se tem sete anos, não se tem muita noção dessas coisas).

- Marquinhos, quero te contar uma coisa.
- Pode falar, Daniel.
- Você promete ser meu amigo?
- Prometo. O que foi?
- Sabe o que é... eu estou doente.
- Mesmo!? O que você tem?
- Estou com anemia...
- Mas você vai ficar bem,  não vai?
- Eu acho que sim. A médica passou uma receita pra minha mãe.
- Ah, então tá bom.
- Éééééh...
- Toma, pode brincar com meu ioiô hoje.

Não sei porquê, mas isso veio-me como um conforto hoje. O emprestar do ioiô era doar uma parte de si para que eu estivesse bem. Era uma doação. Uma confirmação de amizade. Era a preocupação. Era a vontade de fazer sorrir outra vez.

O tempo passou. Marquinhos se mudou com sua família para outro lugar. As vezes o vejo e mal nos cumprimentamos. E se ele não tivesse se mudado, seríamos amigos ainda hoje? As coisas seriam as mesmas?


Ah, queria ser menino só mais por hoje, falar do meu coração quebrado, e queria que alguém me oferecesse seu ioiô.

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