Nunca
fui de muitos amigos. Apesar de minha extroversão quase assumida, sou um tanto
na minha, e me soa superficial assumir isso, mas as vezes tenho aversão a
sociabilidade. Dos poucos momentos que recordo da minha infância que usurpei
com a preocupação precoce de crescer, me lembrei hoje de manhã do dia em que
contei pro Marquinhos, no primeiro ano do Fundamental, que eu tinha anemia (eu
nem sabia o que era anemia. Pessoas tem anemia o tempo todo, mas eu tinha sete
años, e quando se tem sete anos, não se tem muita noção dessas coisas).
-
Marquinhos, quero te contar uma coisa.
-
Pode falar, Daniel.
-
Você promete ser meu amigo?
-
Prometo. O que foi?
-
Sabe o que é... eu estou doente.
-
Mesmo!? O que você tem?
-
Estou com anemia...
-
Mas você vai ficar bem, não vai?
- Eu
acho que sim. A médica passou uma receita pra minha mãe.
-
Ah, então tá bom.
-
Éééééh...
-
Toma, pode brincar com meu ioiô hoje.
Não
sei porquê, mas isso veio-me como um conforto hoje. O emprestar do ioiô era
doar uma parte de si para que eu estivesse bem. Era uma doação. Uma confirmação
de amizade. Era a preocupação. Era a vontade de fazer sorrir outra vez.
O
tempo passou. Marquinhos se mudou com sua família para outro lugar. As vezes o
vejo e mal nos cumprimentamos. E se ele não tivesse se mudado, seríamos amigos
ainda hoje? As coisas seriam as mesmas?
Ah,
queria ser menino só mais por hoje, falar do meu coração quebrado, e queria que
alguém me oferecesse seu ioiô.
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