Eu
que sempre fui fã de colcha de retalhos, estou sentado sob a luz do luar
costurando a mão os pedaços que mais gosto na gente. Sabe, esses sorrisos bobos
que copiam a foto de capa do Troco Likes do Iorc e vão de orelha a orelha, as
conversas sem fim nos lugares mais imundos possíveis, os cinemas as segundas
feiras assistindo filmes que mal nos lembramos o nome- afinal, não me importa o
filme-, como quando vamos jantar e não me importa a comida, como quando vamos
comer churros e não me importa o recheio, como quando vamos comprar livros e
não me importa os livros.
Eu
olho todos esses pedaços, e tenho de novo o gostinho de infância, e lembro que
em sua época de costureira, minha mãe costumava fazer colchas com pedaços de
cetim, e eu me apaixonava a cada peça pronta. Aquele brilho que me enchia os
olhos, hoje torna a reluzir e só quem amou entende a alegria de uma vida triste
ao ter os olhos cheios de novo. Os olhos cheios, o copo cheio, a alma cheia, a
cama cheia, o celular cheio, o coração cheio, a mesa farta, a alegria no falar,
no andar, no vestir, no fazer, no colocar, no tirar, no escrever. Alegria no
viver.
Eu que sempre fui fã de mim mesmo, hoje encontros novos
lugares para admirar. Eu quem era liquido, hoje começo a me solidificar. Eu
quem sempre gostei da minha cama toda para mim, começo a ceder espaço. Eu quem
sempre gostei de tudo pronto, hoje começo a fazer minhas próprias coisas:
cozinho minha comida, costuro minhas roupas, faço uma parede e construo momento
a momento todo esse amor.
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