Hoje
eu me sentei ao chão com meus escritos, restos de canções que perturbam as
lembranças, pedaços de papel com telefones que nunca ousei ligar, comprovantes
de compras feitas com o cartão de crédito, roupas de terceiros com perfumes
mais íntimos que os meus, e tentei fazer tudo ter algum sentido. Fiquei olhando
item por item, viajando por lugar a lugar, memoria por memoria, tentando
encontrar o ponto em que as coisas foram se perdendo, o lugar em que respondi
coisas automáticas, ou não fui muito sincero sobre mim, ou sobre uma opinião.
Lembrei
de dois meses atrás e senti uma sensação estranha de perda, é como se o passado
houvesse sido precioso demais e eu não o tornarei a vê-lo e de certa forma isso
vai atrapalhar as coisas daqui pra frente. Parei diante do espelho e fiquei
procurando pelo ponto luminoso que sempre fez-se presente nos meus olhos, e
hoje estão mais apagados que a esperança do povo canarinho frente a um país
melhor.
Fui
nos meus arquivos de mim mesmo. Nada.
Talvez
tudo que eu seja são esses fragmentos. Textos não acabados, canções cantadas
pela metade, promessas não cumpridas, um bolo sem recheio, ou aquele que apenas
quis fazer o recheio. Sou a camisa bonita usando um sapato feio, “o que sempre
tinha qualidades(1)” e nada mais disso. Sou as ligações não feitas,
a TV que fica ligada 8 horas por dia e nunca me lembro do que vejo, sou as 10
matérias que leio em média por dia em sites informativos e tudo que saberei
dizer é “li em algum lugar”.
Hoje
eu sentei no tapete, com a esperança de me encontrar de novo. Hoje eu sentei
acreditando que eu seria capaz de cantar Portão(2) com tanto vigor
que voltaria a acreditar em mim mesmo. E seria capaz de fazer os outros
acreditarem. Mas tudo que aprendi hoje é que a felicidade não é pra mim. Pelo
menos não aqui.
Para
terminar esse monte de frase solta tentando justificar minha futilidade ante a
vida, cito um escrito meu, tão ruim quanto esse, mas fazer o que...
“Me perdoem por não ajudar a salvar o mundo. O meu
também está morrendo.”
Notas:
(1) Fernando Pessoa (2) Canção de Roberto Carlos
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