Minha grosseria é um modo de autodefesa. Talvez já seja
manjada essa tática, com Abujamra, e uns outros, justificando seu modo
intrépido, por ser por vezes frágil demais que precisara usar uma casca grossa
como meio de defesa.
Em meio a perguntas muito objetivas, em que sou obrigado a
ser concreto demais, começo a me perder, a me sentir ameaçado diante de tamanha
luz de investigação e temo perder a aura incerta que costumo achar que tenho.
Mais do que ser lido, tenho medo de ser interpretado, e descobrirem minhas
entrelinhas, descobrirem minha insegurança ante a vida, o medo de não ser
ninguém (já assumindo isso quase que publicamente), o medo do fracasso (mas o
caminho que tenho trilhado dificilmente me trará sucesso).
Talvez meu medo não é ser interpretado e sim ser mal
interpretado. Como Shakespeare deve revirar no caixão quando dizem que Romeu e
Julieta é uma linda história de amor, perturba-me a alma o medo de ser mal
interpretado. Imagino se me veem conversando comigo mesmo nos momentos de
caminhada e resolvem me apontar como portador de anomalias psicológicas.
EU aprendi a surpreender as pessoas em uma resposta, e não,
isso não é um mecanismo automático e sim um modo de interpretar mais do que
elas falam, o jeito com que falam, a voz revela uma palavra de medo, de
insegurança, de verdade, de mentira, de tristeza, de certeza, e quando se
aprende isso, você entende o modo como sua resposta tem de ser, o modo como
deve instigar aquela pessoa ou simplesmente dar o que ela precisa, e tenho
dado, conforme posso, aquilo que precisam: palavras de certeza, respostas
inquestionáveis para que elas às façam de sagrado e confiem fielmente e
acreditem e louvem e propaguem tais ideias.
Tenho dito verdades que não acredito veemente. Tenho questionado
verdades em que acreditam veemente. Tenho criticado o comum, sendo certo de mim
que nunca sairei dele. Tenho sido a mudança que desejo no mundo (mesmo sem
saber se devo acreditar em Gandhi, ou questionar logicamente todas as lições
bonitas, histórias inspiradoras). Tenho feito sagrado figuras que sequer eram
santas ou fizeram milagres, mas foram suficientemente capazes de dar o sopro da
esperança a alguém. As vezes são esses os grandes heróis.
Tenho sido o herói ensinando as pessoas a não acreditar em
heróis. Tenho admirado pessoas que pulam o muro, mas só entro se o portão me
for aberto. Fiz de mim o que achei que
devia e sempre sugiro que os outros façam mais de si, porquê sim, é possível
ser mais. Gosto do silêncio, mas falo demais. Acredito na simplicidade mas fiz
todas essas metáforas para tentar explicar meu aspecto contraditório ante a
vida.
Talvez seja mais fácil que ninguém me entenda. Mas, ao
mesmo tempo, me vendo como quem precisa ser entendido. [...]
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