quarta-feira, 20 de abril de 2016

Sobre mim

Minha grosseria é um modo de autodefesa. Talvez já seja manjada essa tática, com Abujamra, e uns outros, justificando seu modo intrépido, por ser por vezes frágil demais que precisara usar uma casca grossa como meio de defesa.

Em meio a perguntas muito objetivas, em que sou obrigado a ser concreto demais, começo a me perder, a me sentir ameaçado diante de tamanha luz de investigação e temo perder a aura incerta que costumo achar que tenho. Mais do que ser lido, tenho medo de ser interpretado, e descobrirem minhas entrelinhas, descobrirem minha insegurança ante a vida, o medo de não ser ninguém (já assumindo isso quase que publicamente), o medo do fracasso (mas o caminho que tenho trilhado dificilmente me trará sucesso).

Talvez meu medo não é ser interpretado e sim ser mal interpretado. Como Shakespeare deve revirar no caixão quando dizem que Romeu e Julieta é uma linda história de amor, perturba-me a alma o medo de ser mal interpretado. Imagino se me veem conversando comigo mesmo nos momentos de caminhada e resolvem me apontar como portador de anomalias psicológicas.

EU aprendi a surpreender as pessoas em uma resposta, e não, isso não é um mecanismo automático e sim um modo de interpretar mais do que elas falam, o jeito com que falam, a voz revela uma palavra de medo, de insegurança, de verdade, de mentira, de tristeza, de certeza, e quando se aprende isso, você entende o modo como sua resposta tem de ser, o modo como deve instigar aquela pessoa ou simplesmente dar o que ela precisa, e tenho dado, conforme posso, aquilo que precisam: palavras de certeza, respostas inquestionáveis para que elas às façam de sagrado e confiem fielmente e acreditem e louvem e propaguem tais ideias.

Tenho dito verdades que não acredito veemente. Tenho questionado verdades em que acreditam veemente. Tenho criticado o comum, sendo certo de mim que nunca sairei dele. Tenho sido a mudança que desejo no mundo (mesmo sem saber se devo acreditar em Gandhi, ou questionar logicamente todas as lições bonitas, histórias inspiradoras). Tenho feito sagrado figuras que sequer eram santas ou fizeram milagres, mas foram suficientemente capazes de dar o sopro da esperança a alguém. As vezes são esses os grandes heróis.

Tenho sido o herói ensinando as pessoas a não acreditar em heróis. Tenho admirado pessoas que pulam o muro, mas só entro se o portão me for aberto.  Fiz de mim o que achei que devia e sempre sugiro que os outros façam mais de si, porquê sim, é possível ser mais. Gosto do silêncio, mas falo demais. Acredito na simplicidade mas fiz todas essas metáforas para tentar explicar meu aspecto contraditório ante a vida.


Talvez seja mais fácil que ninguém me entenda. Mas, ao mesmo tempo, me vendo como quem precisa ser entendido. [...]

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