COMO FOI:
- Oi, como você está?
- Estou bem e você?
- Bem também
.
.
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COMO DEVERIA TER SIDO:
- Oi, como você está?
- As coisas andam complicadas. No trabalho,
parecem insatisfeitos com os meus resultados e eu sinto que não posso dar mais
de mim. Em casa, a geladeira não está tão cheia como antes e os cardápios
começaram a repetir demais. Não consigo manter foco nos estudos e a palavra que
mais ando buscando no Google é procrastinação.
Semana passada pedi meu pai para marcar um médico e pretendo ser bem
prático: receite-me fluoxetina. Não ando nada bem. Não tenho lendo e ouvindo
nada. Pareço por tudo um robô. Não ando tendo dinheiro e me sinto cada vez mais
sozinho, gritando cada vez mais alto e cada vez menos tenho o sinal de quem
alguém me ouve. E você?
- Me desculpe, mas vou ignorar o que você disse e
falar-te-ei ao meu respeito: as coisas não estão tão suaves para mim. Briguei
com quem dizia me amar, e talvez me amasse mesmo, eu é quem não sou receber o
tal amor. Na minha família há várias pessoas desempregadas, briguei com minha
melhor amiga, e estou só nessa confusão. Voltei a ter pesadelos. Meu primo
voltou ao mundo das drogas e quase todas as noites minha mãe fala com minha tia, que está enlouquecendo por conta do filho, ao telefone. Na favela em que
moro estão acontecendo constantes confrontos e a cada passo me sinto num campo
minado. Eu estou sem rumo.
. . .
(Cansamos de ouvir, e fomos ensinados a falar.
Como ninguém ouve, quem falará?)
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