sexta-feira, 20 de janeiro de 2017

Silêncio fora de hora

Outro dia estava no meu pai e um amigo nosso apareceu por lá. É um daqueles amigos de longa data, que os filhos herdam dos pais por anos a fio de convivência. Ele estava comentando sobre como as vezes as pessoas pagam sanções por coisas que elas cometeram e nem sequer tiveram o direito de saber que erraram. Ele contou do caso de um cara que tentou apressar as coisas em uma empresa e acabou mal visto pelo pessoal, e eles desde então limitaram a entrada do moço na empresa. O amigo do meu pai jogou uma bomba sobre mim: “como pode alguém pagar por um erro que nem sabe que cometeu?”

Eu fiquei pensando nas coisas que eu devo ter feito por ai, as sanções que sofri, as amizades que deixaram de segurar as minhas mãos, as pessoas que ficaram, e eu nem sempre tive o direito a minha última conversa, nem sempre pude me justificar. E isso é muito conflitante, pois sempre fica aquela sensação de que se de fato fizemos tudo que podíamos ter feito, se na vã tentativa de ser honestos acabamos parecendo forçados, e esses desencontros são bem mais frequentes do que pensamos.

Nesses últimos dias tive tomado pela ansiedade de pensar se de fato fui ou não um bom profissional enquanto trabalhei na escola, e com essa conversa com o amigo do meu pai, eu fiquei literalmente desesperado, pois sempre vem a ansiedade para mostrar que ela têm em mãos os nossos estigmas e medos, e aquelas coisas que só nós pensamos e nem sabemos se é assim que as coisas são ou não, mas na dúvida, sempre a ansiedade fará você pensar o pior de si.

Hoje eu estou aqui, pensando se eu fui sincero com todos que foram, e com as pessoas que talvez eu não fale mais. Será que eles sabiam porquê eu parti, ou eu parti em silêncio? Me parece irreparável quando alguém vai em silêncio. Somos tão nobres seres vivos que dominam inúmeras estratégias de comunicação, e apenas vamos em silêncio. Apenas o vazio. O nada. O estava, ops, não está mais. Será que quando eu fui, eu disse que estava indo?

E a recíproca também: será que quando foram, eu soube porquê partiam? Eu encontrei, nesse tempo, vazios assombrosos. Muitas vezes as pessoas iam e nem deixavam um bilhete, ou uma mensagem na caixa de voz. Eu acordava, olhava ao redor e estava mais uma vez sozinho. Será que essas sanções que eu paguei realmente eram justas? Talvez se o silêncio pudesse ter sido quebrado, ou tido uma brecha, e eu tivesse dito algo, ouvido, entendido, eu teria crescido junto com a partida. Se tivessem dito: emagreça, corra, fale menos, estude mais, abaixe o tom de voz, seja menos artificial, sorria mais, melhore sua postura, talvez eu tivesse entregue outros resultados e as perdas seriam menores, mas temos de aprender a lidar com os encontros e as despedidas, sendo justo ou não. É tudo questão de saber secar as lágrimas e entender que não podemos tudo.


Só estou agora pensando no moço que quando chega na empresa, vê as caras fechadas, os dentes trancados, os olhares fulminantes, e não entende nada. Ou talvez entenda e aos poucos evite ir, até que aquele local não faça mais parte de sua rota. Com o tempo vamos aprendendo a entender as casas em que os portões se abrem docemente para nós e aqueles que rangem ao sentir nossa chegada.  

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