Outro dia estava no meu pai e um amigo nosso
apareceu por lá. É um daqueles amigos de longa data, que os filhos herdam dos
pais por anos a fio de convivência. Ele estava comentando sobre como as vezes
as pessoas pagam sanções por coisas que elas cometeram e nem sequer tiveram o
direito de saber que erraram. Ele contou do caso de um cara que tentou apressar
as coisas em uma empresa e acabou mal visto pelo pessoal, e eles desde então
limitaram a entrada do moço na empresa. O amigo do meu pai jogou uma bomba sobre
mim: “como pode alguém pagar por um erro que nem sabe que cometeu?”
Eu fiquei pensando nas coisas que eu devo ter
feito por ai, as sanções que sofri, as amizades que deixaram de segurar as
minhas mãos, as pessoas que ficaram, e eu nem sempre tive o direito a minha
última conversa, nem sempre pude me justificar. E isso é muito conflitante,
pois sempre fica aquela sensação de que se de fato fizemos tudo que podíamos
ter feito, se na vã tentativa de ser honestos acabamos parecendo forçados, e
esses desencontros são bem mais frequentes do que pensamos.
Nesses últimos dias tive tomado pela ansiedade
de pensar se de fato fui ou não um bom profissional enquanto trabalhei na
escola, e com essa conversa com o amigo do meu pai, eu fiquei literalmente
desesperado, pois sempre vem a ansiedade para mostrar que ela têm em mãos os
nossos estigmas e medos, e aquelas coisas que só nós pensamos e nem sabemos se
é assim que as coisas são ou não, mas na dúvida, sempre a ansiedade fará você
pensar o pior de si.
Hoje eu estou aqui, pensando se eu fui sincero
com todos que foram, e com as pessoas que talvez eu não fale mais. Será que
eles sabiam porquê eu parti, ou eu parti em silêncio? Me parece irreparável quando
alguém vai em silêncio. Somos tão nobres seres vivos que dominam inúmeras
estratégias de comunicação, e apenas vamos em silêncio. Apenas o vazio. O nada.
O estava, ops, não está mais. Será que quando eu fui, eu disse que estava indo?
E a recíproca também: será que quando foram, eu
soube porquê partiam? Eu encontrei, nesse tempo, vazios assombrosos. Muitas
vezes as pessoas iam e nem deixavam um bilhete, ou uma mensagem na caixa de
voz. Eu acordava, olhava ao redor e estava mais uma vez sozinho. Será que essas
sanções que eu paguei realmente eram justas? Talvez se o silêncio pudesse ter
sido quebrado, ou tido uma brecha, e eu tivesse dito algo, ouvido, entendido, eu
teria crescido junto com a partida. Se tivessem dito: emagreça, corra, fale
menos, estude mais, abaixe o tom de voz, seja menos artificial, sorria mais,
melhore sua postura, talvez eu tivesse entregue outros resultados e as perdas
seriam menores, mas temos de aprender a lidar com os encontros e as despedidas,
sendo justo ou não. É tudo questão de saber secar as lágrimas e entender que
não podemos tudo.
Só estou agora pensando no moço que quando
chega na empresa, vê as caras fechadas, os dentes trancados, os olhares fulminantes,
e não entende nada. Ou talvez entenda e aos poucos evite ir, até que aquele
local não faça mais parte de sua rota. Com o tempo vamos aprendendo a entender
as casas em que os portões se abrem docemente para nós e aqueles que rangem ao
sentir nossa chegada.
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