Gosto de pensar na beleza interna de cada coisa. Uma cena que tem me alegrado muito – e me emocionado com certa intensidade – é quando minha irmã acaricia a sobrancelha do meu sobrinho até ele adormecer. Fico pensando na intimidade construída a ponto de perceber na sobrancelha um lugar de calmaria, repouso, tranquilidade, mansidão. É uma cena que atravessa a beleza dos gestos mãe-filho e se encontra com nosso instinto de reconhecer o belo na natureza.
Pensar
na beleza subjetiva do que está em volta traz para a cena a grandeza do outro.
E entendo que repertórios nos levam para o processo de afiar a sensibilidade; e
estar sensível ao mundo constrói novos repertórios. E esse processo se
retroalimenta: vamos nos sensibilizando pelas cenas da vida e nos tornando sensíveis
a partir das cenas da vida.
A
partir dessas cenas que vamos compondo partindo da observação do outro nos leva a refletir sobre as nossas relações com essas cenas. Em terapia, já
alonguei muito falando sobre como alguém agia e no meio da fala percebi ser eu
quem estava sendo descrito.
As
cenas que construímos são essencialmente mesmo sobre o outro?
Nada
mais belo do que uma mãe que aninha seu filho, num gesto que é instintivo. A
mãe que reconhece nos grunhidos se é hora de tirar ou pôr uma peça de roupa, se
é a mamadeira ou o sono que faltam. Se quer ficar em pé ou deitado. E até
mesmo a necessidade do meio-termo.
Nada
mais belo do que ser aninhado por uma mãe. Troque mãe por alguém que você julga
que poderia te aninhar e levaria para essa experiência do materno. Nada tão bom
quanto ter seus grunhidos primitivos ouvidos, atendidos, compreendidos.
Penso
nas cenas bonitas como possibilidades de construção de novas memórias afetivas.
Vendo minha irmã aninhando meu sobrinho me faz pensar sobre esse amor que
atravessa e que cobra compromisso, disposição, calma, energia.
E
penso também em cada uma das crianças da escola que não sei se são aninhadas em
casa. E nas famílias que não sei se sabem que podem só aninhar os seus filhos.
Conversando
com Rita nessa semana, concluímos que talvez o que podemos fazer de mais
importante ao trabalhar com as crianças e suas famílias é auxiliar no processo
de proximidade entre as partes. Conversar com as famílias sobre necessidades e
afetos. E a necessidade do afeto. E os afetos que partem da necessidade.
É
bom estar de volta.
E cada fez mais se faz necessário acolhermos mutuamente. E em se tratando das crianças é primordial este acolhimento. Por isto todos os dias tenho pedido a Deus para que eu seja um ser humano melhor.
ResponderExcluirAmei seu texto❤️
Ah, um grande abraço, Valéria
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