sábado, 10 de maio de 2014

Quanto a mim e a "fidelidade".

Perdemos tempo acreditando em fidelidade. Juramos ser fieis a nossos pais, começamos um amor e prometemos que não vamos trair, e por vezes, banalizamos quem cometa o ato, aos nossos amigos, juramos apoio eterno e quando conseguimos o trabalho dos sonhos, “não vou deixar vocês na mão. Eu sou o que precisam.”

Mas é necessário que o barco da vida dê duas balançadas e tudo cai. É necessário ser convidado para uma festa e ter em sequência a desaprovação de nossos pais para pensarmos em abandonar toda fidelidade, ir embora de casa e não deixar rastros.

Quando o namoro cai na rotina, e o outro está cansado demais para nos levar para jantar, reconsideramos todos os convites que ignoramos no WhatsApp.

Aos amigos, ou os trocamos pelos amores, ou somos trocados, ou ficamos tempos sem nos falar, até que um dia, cheios de saudade nos encontramos na rua, e para não dar o braço a torcer, para não demonstrar nenhum sentimento, limitamo-nos ao “ei, Joia?”, e seguimos nosso trajeto, comentando mentalmente como o outro está diferente e nos envenenando com a amargura chamada “o que eu fiz?”, que vem seguida de “se sentir saudades me procura”, que provoca o esquecimento de todas as juras, e em menos que se esperem, já estão jurando coisas novas para outros.

E quanto os empregos, basta pedir ao chefe para sair mais cedo e ter uma recusa, ou ser escalado para trabalhar no feriado que vinha a tempos planejando um passeio, para dizer que o emprego não presta, e levar rumores terríveis, levar-se a considerar o que nunca foi considerado, e a começar a infernal pirraça que deverá acabar com uma demissão.

A fidelidade só poderia ser considerada importante, enquanto tudo fosse igual. É fácil hoje eu falar para um amigo “cara, você é a pessoa mais foda que eu conheci, sempre serei fiel a você”. Agora, manter essa atitude intacta sobrevivente daqui a dez anos, quando terei convivido com 50 pessoas numa sala de ensino superior, talvez mais 8 num curso de inglês, e viaje num avião com 100 casais num pacote de viagens para a França, é difícil. Hoje, eu convivo com poucas pessoas que não me oferecem variedade, e eu também não as ofereço. Hoje acredito apenas no que vejo e em tudo que ouço. Pode ser que em dez anos, meu melhor amigo de hoje que juro dar-lhe a minha vida, seja para mim, a pessoa mais idiota do mundo.

Acompanhei três anos atrás, uma relação em que a “marca” da jura da fidelidade foi facilmente substituída pela imagem de uma garoupa.  No calor do momento, e cheio de sonhos para a fidelidade do amor eterno, um homem (preciso dizer apaixonado?) tatuou o nome da (in) felizarda em seu braço. Menos de 90 dias depois, o amor acabou, e o nome que seria “eternamente gravado em seu coração” tornou fundo para o desenho de um peixe, a garoupa.

Eu queria mesmo ser fiel a tudo. Ser fiel aos meus amigos, ao meu emprego, aos meus pais, a quem eu escolha para amar. Mas é difícil, por que cada situação exige uma fórmula secreta para que tudo funcione perfeitamente. Assim como nossos dedos tem um tamanho único, que dificilmente fará com que um mesmo anel caiba perfeitamente em mais de um, temos sentimentos únicos para cada um conjunto de situações.

Por isso acredito que perdemos tempo acreditando em fidelidade. Não sei se depois de conhecer mil pessoas serei ainda capaz de amar perdidamente a mesma, e nem, que se algum estranho oferecer ração melhor ao meu cachorro, ele não irá acompanha-lo.


Não acredito na fidelidade porque os dias são imprevisíveis. Não sei quando, ou porque, tudo vai mudar.

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