Perdemos
tempo acreditando em fidelidade. Juramos ser fieis a nossos pais, começamos um
amor e prometemos que não vamos trair, e por vezes, banalizamos quem cometa o
ato, aos nossos amigos, juramos apoio eterno e quando conseguimos o trabalho
dos sonhos, “não vou deixar vocês na mão. Eu sou o que precisam.”
Mas
é necessário que o barco da vida dê duas balançadas e tudo cai. É necessário ser
convidado para uma festa e ter em sequência a desaprovação de nossos pais para pensarmos
em abandonar toda fidelidade, ir embora de casa e não deixar rastros.
Quando
o namoro cai na rotina, e o outro está cansado demais para nos levar para
jantar, reconsideramos todos os convites que ignoramos no WhatsApp.
Aos
amigos, ou os trocamos pelos amores, ou somos trocados, ou ficamos tempos sem
nos falar, até que um dia, cheios de saudade nos encontramos na rua, e para não
dar o braço a torcer, para não demonstrar nenhum sentimento, limitamo-nos ao “ei,
Joia?”, e seguimos nosso trajeto, comentando mentalmente como o outro está
diferente e nos envenenando com a amargura chamada “o que eu fiz?”, que vem
seguida de “se sentir saudades me procura”, que provoca o esquecimento de todas
as juras, e em menos que se esperem, já estão jurando coisas novas para outros.
E
quanto os empregos, basta pedir ao chefe para sair mais cedo e ter uma recusa,
ou ser escalado para trabalhar no feriado que vinha a tempos planejando um
passeio, para dizer que o emprego não presta, e levar rumores terríveis, levar-se
a considerar o que nunca foi considerado, e a começar a infernal pirraça que
deverá acabar com uma demissão.
A
fidelidade só poderia ser considerada importante, enquanto tudo fosse igual. É fácil hoje eu falar para um amigo “cara, você é a pessoa mais foda que eu conheci,
sempre serei fiel a você”. Agora, manter essa atitude intacta sobrevivente
daqui a dez anos, quando terei convivido com 50 pessoas numa sala de ensino
superior, talvez mais 8 num curso de inglês, e viaje num avião com 100 casais
num pacote de viagens para a França, é difícil. Hoje, eu convivo com poucas
pessoas que não me oferecem variedade, e eu também não as ofereço. Hoje
acredito apenas no que vejo e em tudo que ouço. Pode ser que em dez anos, meu
melhor amigo de hoje que juro dar-lhe a minha vida, seja para mim, a pessoa
mais idiota do mundo.
Acompanhei
três anos atrás, uma relação em que a “marca” da jura da fidelidade foi
facilmente substituída pela imagem de uma garoupa. No calor do momento, e cheio de sonhos para a
fidelidade do amor eterno, um homem (preciso dizer apaixonado?) tatuou o nome
da (in) felizarda em seu braço. Menos de 90 dias depois, o amor acabou, e o
nome que seria “eternamente gravado em seu coração” tornou fundo para o desenho
de um peixe, a garoupa.
Eu
queria mesmo ser fiel a tudo. Ser fiel aos meus amigos, ao meu emprego, aos
meus pais, a quem eu escolha para amar. Mas é difícil, por que cada situação
exige uma fórmula secreta para que tudo funcione perfeitamente. Assim como
nossos dedos tem um tamanho único, que dificilmente fará com que um mesmo anel caiba
perfeitamente em mais de um, temos sentimentos únicos para cada um conjunto de
situações.
Por
isso acredito que perdemos tempo acreditando em fidelidade. Não sei se depois
de conhecer mil pessoas serei ainda capaz de amar perdidamente a mesma, e nem, que
se algum estranho oferecer ração melhor ao meu cachorro, ele não irá
acompanha-lo.
Não
acredito na fidelidade porque os dias são imprevisíveis. Não sei quando, ou porque,
tudo vai mudar.
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