quarta-feira, 24 de junho de 2015

A história de amor de todos os dias.

Sente-se, vou te contar uma história. Uma história pequena, que aconteceu tão rápido que eu só percebi que era uma história quando ela já tinha acabado. A história é pequena, mas é boa, nela há mocinhos e vilões, sendo partes de um mesmo ser. Pode numa narrativa o vilão e o mocinho serem o mesmo ser? Não sei não, mas nessa história é. Essa história não foge muito do contexto das histórias que se lê por aí, nem das que se ouve dentro do ônibus.

Ela tem um cenário misto, e se passa na atualidade. É a típica história que se vive nos dia-a-dias. É confusa, e espere vou lhe contar. Você vai se identificar com ela, eu acredito. Ao menos vai ter um amigo de quem se lembrará. Ou aquele amigo de quem não se fala a muito tempo, por ter ficado coisas sem resolver, aproveite e mostre para ele essa história, aproveite e tire as coisas a limpo. Essa é uma história de amor. É comum em histórias de amor sentirmos aquele frio na barriga, sabe, que nos fazem pensar, refletir, nos faz voltar a acreditar. Algumas histórias são como o último palito de fosforo seco quando o isqueiro caiu dentro d’agua, são como encontrar vinte reais no fundo do bolso no final do mês, histórias de amor são sopros de esperança quando tudo que se tem é solidão e deslocamento, não sei se essa é assim.

Vamos parar de enrolação e vamos logo para a história. Mas antes, só uma coisa: essa é uma história que não teve final e nem começo. Ela está em algum lugar entre o nascimento e a morte do nosso mocinho/ vilão. Ela se dá num espaço de tempo desconhecido. Numa data desconhecida. Eu ouvi dizer que aconteceu outro dia mesmo. Mas, oras, que dia foi o outro dia? Isso nem me parece uma história. Como pode uma história não ter um cenário, um tempo, um começo ou um fim? Não sei, mas a chamam de história e eu não vou questionar.

É uma história de amor. De duas pessoas. Que se encontraram numa situação atípica. Não, pera.  Eles se encontraram numa praça, ele trombou nela, os livros caíram... Mas, ele trombou nele, não foi não? Ele era gay e o outro também? Não me disseram isso. Vou contar resumido. Duas pessoas, um menino e uma menina, ou um menino e um outro menino, ou sabe-se Deus se era uma menina e uma menina, se conheceram num dia, de outono, ou era verão, primeira ou inverno. Era manhã, tarde ou noite. Ele, ou ela, uma pessoa simples, uma beleza natural quase imperceptível, nem se destacava na multidão. Ela, ou ele, sempre mais elegante, se dava bem com as palavras, era bem aparentado (a) e era do tipo que observava discretamente pelo espelhinho do retoque da maquiagem, ou pelo canto dos óculos.

Se conheceram, nem se deu muita ideia. Em um deles, ou delas, o coração tilintava um pouco mais alto. Se viram novamente cruzando a esquina, e trocaram o telefone. Para um o telefone era um fio de esperança, era a sorte grande de chegar na estação e pegar seu ônibus vazio. Para o outro, o telefone era só mais um contato na agenda. Ficaram muito no “Oi, tudo bem? , Joia e você?, Arrumando o que de bom ai?” nos primeiros dias, mas logo, foram se fazendo mais perguntas, e dando respostas às que nem haviam sido perguntadas. Com os dias o sorriso saiu do virtual e marcava a face. Sabe aquele sorrisão de orelha a orelha? Era isso que as pessoas viam quando um falava do outro.
Durante os encontros se ouviam muitas gargalhadas, e o pessoal que trabalhava no motel juravam nunca ter visto um casal tão apaixonado. Se declaravam constantemente. Era um amor. Os pais dele adoraram-na. A mãe dela até fez a receita tradicional de família para o rapaz. Se viam sempre. Quaisquer 5 minutos era um fogo que nem bombeiro pode apagar. Falaram em comprar um lote, fazer uma casa, ter dois filhos e serem a família mais feliz do mundo. Eram um amor.

Até que, num dia, ela se enciumou das caronas recorrentes que ele dava a vizinha. Ele não quis dar muita satisfação e ficou puto. Para ele, ela não tinha o direito de se meter em sua vida.

Aos poucos, o barulho do mastigar dele irritava ela, e as roupas curtas dela, ele jurava que o desmoralizava socialmente. As perguntas foram se tornando cada vez mais raras e as respostas cada vez mais sem importância. As ligações eram atendidas com cada vez mais desaforo, e duravam cada dia menos tempo. Os pedidos eram negados com mais facilidade, e ambos começaram a se cansar um do outro.

Para ela, o braço do colega de trabalho começou a perecer ser mais douradinho e ele a tratava melhor. Para ele, a loira gostosa que trabalhava na recepção é que era uma mulher que se preze.  Com o passar dos dias, os olhos que antes juravam nunca terem visto tanta perfeição, viam só defeitos.
Um belo dia, o dono da floricultura vendeu duas rosas- azuis. Uma ela ganhou. A outro, ele deu. Na rosa ganhada, tinha o recado: ‘te farei a mulher mais feliz do mundo’. Na rosa dada, ‘deixe acontecer, que eu faço valer a pena’. E assim, se perdeu uma história de amor, e se nasceram duas.


Sabe por que as histórias de amor se perdem? Não porque as pessoas não se amam, e sim porque não sabem como amar. O amor é um sentimento. É o abstrato, e sua idealização, preciso do concreto. O amor necessita do amar. Amar é tudo aquilo que se faz pelo outro em nome de “nós”, em nome da nossa relação. Amar é atitude. É passar por cima do ego e buscar os dias de paz. É deixar a discussão boba para lá. Amar é entender que numa relação os erros e acertos são de propriedade dividida. A história se repetirá interminavelmente, enquanto se insistir em sentir o amor, sem querer praticá-lo.  

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