domingo, 2 de agosto de 2015

Divórcio.

É comum ler nos jornais ou ouvir falar dentro do ônibus sobre casais que separam. O amor que antes tinha o hábito de durar a vida toda, hoje se consagra eterno e dura 5 anos.

Como acontece um divórcio? Porque as pessoas se separam? Será que o amor acaba, ou enjoamos do cheiro do outro? Será que o tempero da comida não é o mesmo, ou é a mania de deixar a tampa da bacia sanitária levantada que se tornou insuportável?

Se têm uma coisa que aprendi na faculdade é que as coisas são um processo. Nada acontece e tem uma consequência imediata, ou está ligada à um só fato. As coisas começam a ruir. O prédio não amanhece e cai de uma vez. A morte por alcoolismo não é causada por um único gole. O suicídio não é a dor de um só momento. Assim sendo, o divórcio é apenas a fase final do processo. O divórcio é a falta de empatia, é a acreditar que se ama mais que o outro, é achar que se luta mais pela relação do que o parceiro.

Começo a imaginar o processo de divorciar-se começando. Numa manhã, o marido deixa a toalha molhada sobre a cama. Mulher detesta toalha molhada sobre a cama. A esposa fica brava com o marido, que revida dizendo que está com pressa demais para pendurá-la no varal. E aí, a mulher fica mais brava ainda começa a cobrar do marido mais apoio nas atividades domésticas. O homem saí de casa estressado, xingando e no caminho do trabalho, reclama pelo telefone com os amigos que a mulher é chata demais e não entende que ele trabalha muito e que tarefas de casa é coisa para mulher. Mais tarde, a mulher liga para o marido. Ele rejeita. Ela repete a ligação. Ele rejeita novamente. Ela liga insistentemente umas dez vezes. Uma dezena de vezes ele a ignora. O homem se acha no direito de vingar-se da mulher, dando-lhe um gelo. A mulher, brava com aquilo, não faz janta. O homem chega em casa, com muita fome e encontra a mulher na sala, falando ao telefone, lixando as unhas, vendo televisão, lendo um livro, e na cozinha as panelas vazias. O homem prefere manter-se calado para evitar atrito. A mulher se sente realizada ao ver o marido cabisbaixo.

Com o passar dos dias, vão se trocando menos palavras. Os sonhos vão perdendo a ideia de ‘nós’, e aos poucos o ‘eu’ domina. A casa antes um lar cheio de amor e prosperidade, começa a parecer um ringue de batalha. Os filhos se tornam pombos correios de seus pais. “Fala com seu pai que a torneira da cozinha está vazando”. “Vai lá e chame sua mãe, têm ligação para ela”. Aos poucos o amor sólido começa a ruir.

O amor tem dessas coisas: ser firme, lindo, puro, complexo. Mas, outrora, é frágil e requer dotes inimagináveis. O amor precisa de cuidado para ser carregado. O divórcio é pensar que a cruz que se carrega é mais pesada do que a do outro. O divórcio é a renúncia do amor. O ruir do amor é o divórcio abrindo caminho para se estabelecer. O divórcio é a falta de interesse no outro, é o manifestar do egocentrismo, é o se achar bom demais para aquela pessoa, é a ideia de que se pode ser feliz sozinho. E se pode mesmo, porém, a felicidade se torna limitada à previsibilidade.



O divórcio acontece pela toalha sobre a cama, pelos filhos rebeldes, ou porque o casamento simplesmente caiu na rotina. O divórcio acontecerá porque já não se faz amor como se fez. O divórcio acontecerá por tantos motivos, mas o único que é capaz de lhe deter é o mesmo que mantêm o amor vivo: a vontade de superar as diferenças, recomeçar e seguir em frente.

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