É comum ler nos jornais ou ouvir falar dentro do ônibus
sobre casais que separam. O amor que antes tinha o hábito de durar a vida toda,
hoje se consagra eterno e dura 5 anos.
Como acontece um divórcio? Porque as pessoas se separam?
Será que o amor acaba, ou enjoamos do cheiro do outro? Será que o tempero da
comida não é o mesmo, ou é a mania de deixar a tampa da bacia sanitária
levantada que se tornou insuportável?
Se têm uma coisa que aprendi na faculdade é que as coisas
são um processo. Nada acontece e tem uma consequência imediata, ou está ligada
à um só fato. As coisas começam a ruir. O prédio não amanhece e cai de uma vez.
A morte por alcoolismo não é causada por um único gole. O suicídio não é a dor
de um só momento. Assim sendo, o divórcio é apenas a fase final do processo. O
divórcio é a falta de empatia, é a acreditar que se ama mais que o outro, é
achar que se luta mais pela relação do que o parceiro.
Começo a imaginar o processo de divorciar-se começando. Numa
manhã, o marido deixa a toalha molhada sobre a cama. Mulher detesta toalha
molhada sobre a cama. A esposa fica brava com o marido, que revida dizendo que
está com pressa demais para pendurá-la no varal. E aí, a mulher fica mais brava
ainda começa a cobrar do marido mais apoio nas atividades domésticas. O homem
saí de casa estressado, xingando e no caminho do trabalho, reclama pelo
telefone com os amigos que a mulher é chata demais e não entende que ele trabalha
muito e que tarefas de casa é coisa para mulher. Mais tarde, a mulher liga para
o marido. Ele rejeita. Ela repete a ligação. Ele rejeita novamente. Ela liga
insistentemente umas dez vezes. Uma dezena de vezes ele a ignora. O homem se
acha no direito de vingar-se da mulher, dando-lhe um gelo. A mulher, brava com
aquilo, não faz janta. O homem chega em casa, com muita fome e encontra a
mulher na sala, falando ao telefone, lixando as unhas, vendo televisão, lendo
um livro, e na cozinha as panelas vazias. O homem prefere manter-se calado para
evitar atrito. A mulher se sente realizada ao ver o marido cabisbaixo.
Com o passar dos dias, vão se trocando menos palavras. Os
sonhos vão perdendo a ideia de ‘nós’, e aos poucos o ‘eu’ domina. A casa antes
um lar cheio de amor e prosperidade, começa a parecer um ringue de batalha. Os
filhos se tornam pombos correios de seus pais. “Fala com seu pai que a
torneira da cozinha está vazando”. “Vai lá e chame sua mãe, têm ligação
para ela”. Aos poucos o amor sólido começa a ruir.
O amor tem dessas coisas: ser firme, lindo, puro, complexo.
Mas, outrora, é frágil e requer dotes inimagináveis. O amor precisa de cuidado
para ser carregado. O divórcio é pensar que a cruz que se carrega é mais pesada
do que a do outro. O divórcio é a renúncia do amor. O ruir do amor é o divórcio
abrindo caminho para se estabelecer. O divórcio é a falta de interesse no
outro, é o manifestar do egocentrismo, é o se achar bom demais para aquela
pessoa, é a ideia de que se pode ser feliz sozinho. E se pode mesmo, porém, a
felicidade se torna limitada à previsibilidade.
O divórcio acontece pela toalha sobre a cama, pelos filhos
rebeldes, ou porque o casamento simplesmente caiu na rotina. O divórcio
acontecerá porque já não se faz amor como se fez. O divórcio acontecerá por
tantos motivos, mas o único que é capaz de lhe deter é o mesmo que mantêm o
amor vivo: a vontade de superar as diferenças, recomeçar e seguir em frente.
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