segunda-feira, 8 de fevereiro de 2016

Vir a ser

Hoje eu acordei com medo de ser sozinho para sempre. Olhei a minha volta: vi minha casa, minha família que meus pais construíram e fiquei encabulado: e quando esse conjunto se desmanchar, será que serei capaz de construir o meu próprio?

Talvez não entendam, mas eu tenho medo da solidão. Ter aversão a sociabilidade é uma coisa; recusar os convites para passeio, optar pelo silêncio do quarto, ficar o dia todo sozinho vendo TV e comendo pipoca de micro-ondas são situações de escolha e eu sei que qualquer sinal que eu fizer (chamar alguém, gritar, fazer algum barulho), rapidinho alguém vai me responder, vai vir querer saber se preciso de algo, porquê numa família é assim: naturalmente nos importamos com o outro. Tem com quem brigar pelo último pedaço de bolo, e quem te buscar uma aspirina num dia de febre. Mas, e se um dia, quando isso acabar, eu não arrumar ninguém para formar um conjunto comigo, e eu estiver em casa, e gritar o nome de alguém, e não houver ninguém para responder? Se eu passar mal e não tiver quem me acudir? Não houver ninguém para esperar minha chegada, para falar sobre a toalha sobre a cama, para fazer o meu prato favorito.

E se eu acordar um dia e não ter com quem dar bom dia. Não ter quem acender a luz de fora. Não ter quem perguntar sobre as possibilidades de ter um cachorro. Com quem fazer uma família? E se eu não tiver filhos para me dar alegrias? (E tristezas). E se eu for sozinho, tiver de ir à padaria comprar um pão, e no sacolão não ter de exagerar na quantidade à ser comprada. Quando eu quiser fazer um churrasco e não ter com quem dividir preferencias.

E se eu for sozinho para sempre. Eu quem cantei sempre “I don’t wanna be alone forever, but I can be tonight” (eu não quero ser sozinho para sempre, mas posso ficar essa noite), de repente me vejo com medo de ser só eternamente. E se o vizinho fizer barulhos demais? E se os filhos dele forem aquelas crianças insuportavelmente felizes, e ele for aquele pai extremamente orgulhoso deles, e toda vez que eu o ver na rua ele me falar do quão feliz é por ter uma família, e eu olhar os cômodos da minha casa vazios, como lidarei?

Quem vai me acolher na velhice? Quem vai falar que eu sou chato? Quem vai dizer que está com saudade de mim? De quem eu serei herói? Com quem gastarei a parte útil do meu salário? Quem vai dar continuidade à minha ninhada?

De repente veio, lentamente, tantas perguntas intrigantes e bateu a necessidade de ter respostas que não tive ainda e de não ser como eu não quero ser.


EU só quero ser eu mesmo, quero você me ame, não quero ser sozinho para sempre, mas posso ficar essa noite.

Nenhum comentário:

Postar um comentário