terça-feira, 25 de outubro de 2016

Sim.

Quando levantar da cama deixa de ser um peso, você nota que algo não está mais como estivera antes, e de fato não está. Ainda bem. Sentado à mesa de almoço num domingo, com minha mãe e três amigos eu pude perceber o que importa. Quando alguém gosta de você pelo que você tem e isso se torna claro o bastante, não existe mais limites em que terrenos se pode transitar, e numa tarde de sol a Ana deitou na minha cama e puxou o edredom e eu deitei sobre suas pernas, como quem precisava daquele conforto. Depois de muito tempo, o colo da Ana ainda tem o cheiro do colo de mãe, o colo de gente sábia, aqueles colos que chamam a gente para deitar, sabe? O colo que ampara, conforta e descansa.

Quando alguém leva três horas para chegar a sua casa e mesmo assim vem sempre que pode ou sobe um morro enorme para chegar, a percepção dos sentidos é repensada, e as palavras falharão em descrever a importância que eles assumiram em minha vida! Algumas canções talvez existam com esse propósito, e eu as canto com muita alegria em saber que em algum lugar, nesse momento, há alguém para quem eu seja mais do que o cara estranho do ônibus ou um monte de favores acumulados, haja alguém que se propôs a vir e entrar e agora não parece querer sair. É bom quando seus amigos reconhecem sua casa como um lugar bom e o seu quarto, mesmo quente, está cheio. É bom quando você percebe que todos ficam enquanto podem, e te faz ver que você tem feito a coisa certa, e talvez sempre fez, só que agora uma constante mudou: são as pessoas certas! São as pessoas pelas quais valem a pena abrir a janela, são pessoas que atendem seus telefonemas, que vão além sem ser invasivas. São os seus amigos.

E nos momentos de tomada de consciência, quando eu sento e vejo os bons plantios que fiz, desaparece a ansiedade sobre ser ou não um fracassado. Eu ajudei alguém a mudar o caminho dos seus dias. Eu ajudei “alguéns” a mudar os caminhos dos seus dias. Quando eu tomo consciência, toda a palavra ruim, todo o sentimento de culpa, peso, rancor, amargura, mau-humor se vai, pois eu abri as portas e janelas que eu pude, eu deixei que pessoas entrassem e me ajudassem na faxina. Eu abri meu coração e deixei de lado o que eu insistia em carregar e deveria ter ficado lá atrás.

Quando levantar da cama deixa de ser um peso, você consegue lidar com suas tarefas, consegue lidar com o silêncio sem se desesperar, consegue realizar suas tarefas de casa, realizar seus estudos, ler seus livros, consegue ir comprar pão, sente prazer ao lavar as vasilhas, retoma assuntos abandonados, pois de repente você volta a sentir-se interessante. E que o interessante não está no que você faz e sim em fazer.

Ao telefone mais cedo, lembrei de uma metáfora de um pastor que eu ouvi nos meus tempos de protestante ativo: “Daniel, você não nasceu para ter estrelas brilhando no seu céu e sim ser uma estrela brilhando no céu de alguém”. E eu acho que tem sido gratificante saber que por menor que seja a luz que exprimo, eu estou sendo percebido e para alguém, além de mim, as coisas fazem sentido.


Gratificante.

2 comentários:

  1. Você é fantástico e faz bem para as pessoas a sua volta, cada vez mais! Não tenha receio em se orgulhar sempre pela pessoa que é. E tenha em mente que posso perceber sua transformação e tenho muito orgulho de todo o esforço que tem feito para ser alguém melhor e buscar a felicidade.
    Você está conseguindo.

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