Estou sentado observando o quanto tudo mudou. Amanhã já é 15 de novembro de 2016 e faço viagens para essa mesma data um ou dois anos atrás e vejo dias sem muitos significados, sem muito sentido, sem algum barulho que me deixou saudade. Não sei porquê, mas 2016 está sendo uma versão de ano deluxe. Se eu fechar os olhos, juro sentir meus pés tocando o chão novamente e aquela nuvem de pensamentos onde era o mundo e eu em lados opostos, e no meio eu tentando fazer algo parecer no mínimo justificável.
Poderia começar falando do como estou mais calmo e percebo que até a minha fala tem ficado mais devagar, ou sobre como a necessidade de falar está sendo substituída a passos lentos pela necessidade de ouvir, mas esquecerei isso. Preciso falar de algo mais específico, algo tão essencial como o pão sobre a mesa e a água no copo. Falaremos sobre você.
Pegue um espelho e se olhe. Calmamente. c-a-l-m-a-m-e-n-t-e. C-A-L-M-A-M-E-N-T-E. Olhe no fundo dos seus olhos, naquele pontinho preto que fica depois da íris. Se for numa loja de roupas melhor ainda. Esses espelhos parecem câmera de dispositivos da Apple e faz com que enxergamos tudo limpo demais, nítido demais, real demais. Pense em uma coisa que você admira em si mais do que tudo. Pode ser aquela qualidade que ninguém reparou ou aquilo que é íntimo demais até para ser pensado. Depois se olhe de novo. Faça uma retrospectiva dos seus dias de muita dificuldade, dos momentos de choro abafado e se algum rancorzinho restar, deixe que as lágrimas lavem ele. Se abrace. Forte. Esse é o abraço mais importante do mundo. Cante uma música. Cante uma música ridícula. Cante uma música ridícula de modo ridículo. Lembre dos seus dias de gozo, tente refazer aquele sorriso do dia em que a paixão ardia no ápice. Se olhe novamente, calmamente.
Peça desculpas a si, pelas inúmeras vezes que o que os outros achavam foi mais ouvido do que suas palavras sobre você mesmo. Agradeça a si por ter sido a melhor companhia dos últimos anos. Reflita sobre o quanto você mudou nos últimos meses, e nada de pensar nos quilinhos a mais ou na numeração de roupa. Pense em quantos obstáculos venceu, pense em onde você chegou, pense nas adversidades que suportou, dos leões que enfrentou, pense em como você foi forte nas madrugadas desacompanhadas, em como ninguém te disse como seria e você simplesmente foi e fez, ou faz ou fará.
Pense no seu maior segredo. Multiplique por 2. Divida pelo quadrado da distância entre a terra e o planeta regente do seu signo. É pequeno demais, né? Se lembre do maior aprendizado do último mês. Pense no quão ridículo são todos os homens ridículos. Pense no quanto você é ridículo. Depois ria. Ria do seu tombo na escada, ria das vezes que achou que ia ser o fim do mundo, e lá foi você, no ônibus cheio ir trabalhar, ou fazer prova depois de uma noite em claro.
Agora pense no seu sonho.
Pense no seu maior medo.
Responda para si: e se o meu maior medo acontecer? E se o meu maior sonho se frustrar?
Agora tome água. A vida não vem com manual de instruções, e parecemos esquecer disso. Fazer o mínimo que conseguimos em cada dia é uma tarefa hiper árdua, por mais pesado que seja a data. Perdoe todos os outros por seus dias de fraqueza em que proferiram uma frase mal-intencionada sob você. Perdoe a si pelas frases mal-ditas.
Nesse momento pegue alguma coisa que toque música, e coloque aquela canção que vai te destruir, passar o rolo compressor sobre você.
Eu quero que pense nas madrugadas mal dormidas, dos dias em que você foi com a promessa de que alguém lhe encontraria e ninguém foi a seu encontro, e em como o mundo está cheio de maldade. Agora eu quero que pegue uma folha, um app de notas, uma notinha de cupom fiscal e liste três motivos pelos quais você merece ser feliz.
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