domingo, 4 de dezembro de 2016

Os meus pequenos botões

São pequenos e sem valor. Mas são meus. Eu quero que olhem bem estes pequenos botões e saibam que mesmo que não tenham algum valor monetário ou sei lá qual, trago eles comigo porquê são as minhas vitórias. Minhas pequenas grandes vitórias. As vitórias de longos períodos de lutas, as recompensas dos dias por ter me comportado direitinho, são títulos da infância presa em casa, é fruto de muito avançar e retroceder.

Ainda outro dia, discutiu-se as minhas notas baixas em geometria analítica. Falaram da viagem, como se viajar tivesse me levado à não ser bem sucedido naquela disciplina. Fiquei pensativo.

Será que eles podiam mesmo falar assim, de algo meu julgando atos e ações, podendo achar ou não alguma coisa? Será que eu precisaria pedir para que parassem de falar, e respeitasse o meu pequeno botão? Será que eles não trazem ao peito recompensas das quais se orgulham, e seriam capaz de parar o mundo para obtê-las? Será que não sabem, que no final, quando nosso coração não mais bater, e o último neurônio não enviar mais impulso elétrico, tudo que teremos são os pequenos botões que colecionamos ao longos dos dias?

Podem achar exagerado demais, mas eu me desprendo da realidade numa facilidade, e isso não quer dizer que eu a abandone por completo, eu só deixo um pouco de lado tudo que andam fazendo, andam dizendo, e outras ações de gerundismos por aí, e vou para o meu infinito particular, onde pego cada botão, olho com todo o cuidado um por um, lustro-o, beijo-o, dou-lhe um abraço. Refaço toda a lembrança do dia que o conquistei. Eu vou e volto, numa facilidade. Eu vou para os meus caminhos de paz e alegria e volto para abrir novos caminhos. Eu vou reverenciar as minhas conquistas, e volto para conquistar de novo.

No sábado passado recebi um amigo em casa. Amigo dos tempos de ensino médio. Tomamos açaí, jogamos conversa fora, discutimos a teoria da igualdade ou diferenças dos termos precisar e necessitar. Discordamos um pouco, mas nos entendemos. Falei com ele dos meus pequenos botões. Ele riu, muito e concordou. Eu lhe entreguei uma foto do seu tempo de ensino fundamental e ele ficou olhando e comentando: olha a Rafaela, e falou de uma e outra pessoa; os seus olhos brilharam. Ele tinha encontrado um pequeno botão. Meus olhos brilharam mais e logo em seguida, arrebatei-o: dei-lhe um livro, dos que o Matt me dera, e escrevi uma dedicatória real, insuportavelmente real, mas sincera, singelamente sincera. Ao final da noite, ele montou na bicicleta e foi, mas sem antes soltar uma pérola na despedida: “Daniel, você não é amigo de toque de mão e sim de abraços”. Dei-lhe um abraço, meio desajeitado porque me pegou de surpresa. Fiquei olhando ele ir. Fiquei pensando nele, nas nossas experiências de cerveja subindo a rua da Bahia enquanto comíamos empadinhas de um real. Lembrei do velho que nos disse que a melhor cerveja é a Itaipava.

Ele não sabe, mas devo a ele muitos dos meus pequenos botões.

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