Não
acho um exagero Augusto Cury ter escrito dois livros sobre ansiedade. Eu já até
os baixei no Kindle e quem disse que os li. Eu não sei que mal do século é
esse, mas sei que ele é responsável por ter feito eu assistir toda à temporada
de uma série em um único dia, o fato de acordar num dia querendo que ele acabe
logo, e de pensar que um evento daqui a três meses me trará a felicidade
suprema. Eu não sei qual seu grau de relação com a ansiedade, mas eu vejo ela
tão próxima, de repente até, já vivemos uma relação estável, registrada em
cartório e eu não sei (ou finjo não saber).
Semana
passada esperei ansiosamente o telefone tocar. O telefone não tocava. Eu me
bloqueava lendo livros, conversando com pessoas, caminhando. Me distraía, mas
quando eu tentava respirar livre, a ansiedade estava ali para fazer meu coração
disparar mais uma vez. Para me distrair nas horas mais vagas (eu disse mais vagas porquê horas vagas eu já ando
tendo demais), eu criei um hábito de ficar balançando os dedos da mão esquerda,
conforme o filme A Queda mostra em Adolf Hitler (ele talvez sofresse de
Parkinson ou algo com efeito próximo).
Não
sei vocês, mas me sinto diretamente atacado quando algo sai do meu controle, e
nesses dias que como cantou Maria Rita: Agora
que voltou tudo ao normal, talvez você consiga ser menos rei, e um pouco mais
real, eu estou com os pés mais no chão conhecendo algumas chagas até então
inéditas, ou que eu lidava com corpo mole, e fazendo questão de entender todos
os passos que eu dou.
Ontem
mesmo eu dirigi o carro velho do meu pai, e como se já não fosse uma
transgressão dirigir sem habilitação, estava conversando com um amigo no fone
de ouvido. O tempo todo eu ficava falando as marchas que eu colocava e tentava
entender até onde eu iria, até que rotação o motor poderia girar, como o carro
corresponderia ao meu conjunto de ações. Em um momento eu me distraí e gritei: eu não sei que marcha estou usando. Eu estou
de terceira? Eu não seu se estou de terceira. Foi angustiante não saber
como eu estava me portando diante da direção e nos meus dias têm sido assim: eu
venho tentando saber como lido com cada aspecto do meu dia.
Se
eu falo alguma coisa, depois fico rememorando o meu discurso tentando entender por
que eu falei aquilo, o que eu quis dizer, o que eu senti naquele momento. Estou
tentando ser o mais fiel possível a mim, e como os recursos financeiros estão
ficando escassos, estou tentando manter essa fidelidade a custo zero, revendo
as minhas bases, mexendo com os meus preconceitos, me fazendo entender todos os
pontos o processo, porquê sim, eu sei que existem falhas em meu comportamento,
e mesmo as que não controle, quero, no mínimo, saber que existem.
Para
liquidar a ansiedade estou lendo bastante. Até livros de estratégia e
autoajuda. Quem sou eu para falar que algo não funciona. Estou assistindo
vídeo-aulas e prestando mais a atenção no que dizem os meus amigos. E esses,
estou morrendo de amor por eles, em silêncio, porquê o orgulho é demais para
admitir. Estou também respeitando mais os amores, ou amor. Sábado mesmo assisti
um documentário que eu sei que me tiraria o conforto, e me confrontei, e me
perdi, e desesperei, e senti saudade, e senti medos, e levantei aos céus as
mãos mais uma vez e agradeci. Comecei a fazer caminhada durante as tardes, e
vejo que o caminho que à distância parece gigante e interminável, na prática é
delicioso de fazer, e é tão rápido, que qualquer dia o farei duas vezes.
A
ansiedade existe. O medo existe. A frustração existe. Mas existe o conforto de
saber que tudo tem o seu tempo. Existe a humildade para saber que sozinho nunca
vencerei o escuro e procuro uma lanterna para ver mais dos meus olhos conseguem.
E eu sei que mesmo que frustre um dia, sempre tentei e tentarei ser o mais
próximo possível a mim.
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