terça-feira, 18 de abril de 2017

Oz.

Eu estou mais uma vez aqui sentado a beira do caminho de tijolos dourados sem saber como seguir. Deveria eu cantar um jingle a la moda disneyana e de repente me ver coberto de pássaros azuis e borboletas? Deveria largar a corda e deixar que o balde caia na cabeça de quem está dentro do poço administrando a água? Deveria eu só ignorar e me arrastar pela estrada, tentando chegar ao grande Oz e ir ver se ele me leva para o Kansas?

Quando penso na última possibilidade, lembro que Oz era apenas alguém que também precisava ser salvo, e que para ter um coração o homem de lata teve de ter amor e compaixão, o leão teve de ser corajoso para não ser mais medroso, o espantalho teve de aprender a ser sábio para dotar-se de sabedoria e que Doroty precisou salvar a todos antes de salvar a si mesma. Mas será que sobre isso que é a vida? Sobre socorrer os gritos de desespero, e no final esperar que as pessoas que te cercam te salvar, ou salvar a todos antes de salvar a si?

Quando lembro que essa coisa de herói é balela e o máximo que podemos fazer é dar as mãos uns para os outros e ver se nós salvarmos todos juntos, me lembro dessa mania de individual que vivemos e me entristeço. Entristeço pela dor ser minha e sentir que cada dia mais as pessoas me ouvem com menos interesse, e numa vontade de querer que minha dor seja respeitada, vou desrespeitando o sentimento dos outros, a dor dos outros, os sentidos dos outros, e na tentativa de me mostrar aqui, eu vou desrespeitando a presença dos demais. É só um apanhado de como eu quero que as coisas sejam, e do modo com o qual não quero aceitar que sejam, e esse mundo que eu renego, eu começo a fingir que ele não existe, na fugaz tentativa de ser Oz, o supremo e poderoso, que no final nada mais era que um enganador que usava máscaras para surpreender os demais.

Será que não sou Oz tentando me fazer de Doroty? Será que no final não somos todos um monte de tentativas de poderosos usando máscaras para surpreender, que no fundo só querem ser salvos e ir para casa?

Eu só quero ser feliz. Feliz.

Nenhum comentário:

Postar um comentário