segunda-feira, 17 de julho de 2017

Alive

Na segunda série tive um amigo chamado Michael. Ele era um desses meninos branquelos e alto, do cabelo escorrido. Das poucas coisas que consigo me lembrar de Michael, é de uma vez que ele chegou na escola chorando porque ele não tinha feito o dever de casa, e sua mãe tinha lhe dado umas palmadas. É engraçado como eu consigo me lembrar de coisas que aconteceram alguns anos atrás (e eu acho legal isso), mas às vezes dói ter algumas lembranças.


Como a vez em que minha mãe fez pastel porque umas pessoas tinham prometido vir aqui fazer trabalho, e não vieram. Engraçado é que no outro dia eu perdoava todos, e me abria mais uma vez as coisas. Hoje em dia eu sou mais resistente a isso. Ser adulto nos deixa inflexíveis e burros (burrice no sentido de saber o que se deve fazer, e sempre fazer o oposto disso).


Não sei, mas me sinto cada dia com menos capacidade de amar o amor bom. O amor ágape sabe, aquele amor que acontece por si e por si acontece, sem precisar de recompensa, sem precisar de algo em troca. Sempre me vejo deixando de amar algo ou alguém por ter sido chateado, ou por não ser correspondido, ou pelas coisas não serem interessantes. Eu entendo que todos são dignos de nosso amor, mas esse desdobramento pelos outros tem me cansado.


Me sinto um velho num corpo de 21 anos que poderia estar fazendo tanta coisa, mas ao invés disso opta por uma Brahma e fica de boa. Com isso, me vem a pergunta: “será que está tudo bem?” Será que o silêncio que tem me acalmado nos últimos dias, realmente está me fazendo bem, ou é uma fase de aceitar o que tenho por comodismo e resistência à mudança?


Eu me lembro do Michael que se mudou no final de 2005 para Santa Catarina e me lembro de ter lhe dado o meu telefone fixo, que nunca tocou. Eu me lembro de tantos outros nomes como Kênia, Francisco, Luana, Kássia, Margarida, Leonardo, Pedro, e vou me lembrando de Joões e Marias que estiveram por aqui e hoje não estão mais, seja porque foram de fato, ou porquê eu os deixei ir. Mas antes de pensar que fui o abandonado, lembro que eu também fui muitas vezes, e que eu continuarei indo, e isso me conforta quando eu aceito que sou um homem do meu tempo (o bendito do sujeito pós moderno, que é pós-tudo, até a ele mesmo). As pessoas estão passando, e eu também estou passando. Uns passam e deixam marcas. Uns passam e fazem morada. Outros nem passam.  


Talvez o meu modo de me apegar as coisas seja eu não me apegando a nada. Estando apenas sobre a cama olhando a TV e o mundo em volta. Me acostumando as mudanças que o mundo propõe, ou que eu me imponho, por entender que não posso ser o mesmo todos os dias, e que preciso mudar.

Por hora vou ficar tranquilo e ouvir Sia. Alive. Afinal, sobrevivi e vou continuar sobrevivendo.

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