sábado, 29 de julho de 2017

Ser quem sou

Acordei neste sábado com disposição para falar de uns assuntos que venho evitando falar há um tempo. Evitar falar algo talvez seja comodismo diante de uma situação, ou desejo de que aquilo se torne irrelevante e parecemos lidar com cada vez mais indiferença, quando no fundo ainda estamos sufocados. A vida é um baile de máscaras, e agora é meia-noite: é hora de tirá-las.


Quando você começa a aceitar as suas limitações, seja admitir que não consegue carregar um saco de cimento, ou que aquelas calças que você guarda sem uso não encontrarão mais as curvas do seu corpo, aceita que livros de autores russos não são tão fáceis de ler assim, e que você não está disposto a fazer o movimento suficiente, você tira de si o peso da cobrança e ao pensar “será que sou bom?” você debate interiormente sobre ser bom para quem. Aceitar que eu não sou tão calmo assim, aceitar que eu preciso de heróis, aceitar que eu sou falho, e me pareço com aqueles tipos de pessoas sem sorte que fazem burrada de minuto em minuto, me faz pensar que eu preciso melhorar (e ufaaaa, graças a Deus eu preciso melhorar).


Aceitar que sou limitado abre o leque para muitas outras coisas, como que talvez eu não tenha tantos amigos assim, e nesse mesmo movimento, aceito que talvez eu não seja tão forte assim, e seja capaz de cuidar das pessoas como eu prometi (ou acreditei que poderia). Eu sou frágil, bastante, eu erro e, indiscutivelmente, lido com as minhas consequências sem discutir, sem pestanejar, sem culpar outros: eu me justifico mas recebo as sanções.


Eu aceito e admito: eu sou falho. Eu erro. Não tenho verdades prontas. Não sou um bom modelo a seguir. Não pratico todas as minhas crenças. Não sou tão desconstruído assim. Tenho preconceitos. Não sirvo pra super-herói. Tenho uma oratória ruim. Preciso de calor humano a moda parisiense. Admito que não sou expert em Matemática. Não sou fácil de lidar: eu tenho coisas minhas que nem eu mesmo sei o porquê. Qualquer coisa que renuncie isso, é expectativa e eu (não) tenho o direito (dever) de cumpri-las.

Mas em contrapartida a tudo isso, tenho uma vontade enorme de acertar. Agora é meia-noite e, enfim, todos conhecem minha face.

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