O
uso do termo homens pode ser
substituído por qualquer outra palavra que designe a classe de
pessoas importantes para nós: amigos, namorados, namoradas, colegas,
irmãos, pais, filhos, tios,
primos. Pessoas que
conheceram nossa sina, que seguraram nossa mão, ou que só flertamos
pelo Tinder: gente de verdade se despede.
Algumas
pessoas parecem nunca terem sido abandonadas. Aquele conflito interno
de procurar alguém que de repente não está mais disponível nos
faz pensar onde erramos. Não que pensar nos nossos erros seja algo
ruim – ruim é o desespero, é a sensação de impotência, a
sensação de que você não é bom para ninguém, e antes que me
questionem a ideia de ser bom para alguém, dou-lhe a réplica:
todos nós queremos ser aceitos, e quando vários abandonos
acontecem, a gente para e pensa: será que sou eu o problema?
Não.
Você não é o problema. O problema é a cultura da indiferença. A
cultura do se quiser falar comigo me procure. Não procuro você.
Você não me procura. Ficamos dois paranoicos, um de cada lado,
achando que o outro está chateado conosco – ou até mesmo fazendo
bonequinhos de vudu - e no final, acabamos por parar de falar por
completo, e vamos embora sem nos despedir, sem pensar em como o outro
está, sem nos preocupar sem
pelo menos agradecer pelos bons momentos. Ao contrário, saímos
feito políticos que mudam de partido e levam seus dias a demonizar o
passado, a desdenhar o que não queremos mais.
Pessoas
de verdade se despedem. Se despedem pelo respeito pelo outro, ou me
diga que não lhe incomoda as mensagens serem enviadas, serem lidas e
não respondidas? Se despedem por entender que aquele lugar já não
lhe satisfaz e ela pode, e deve, seguir em frente, mas e com quem
fica? Será que o cobertor que aqueceu a todos não vale mais? A
gente quer seguir em frente sendo adultos e donos do nosso nariz,
quando não passamos de crianças assustadas tomando decisão às
cegas.
Todas
as pessoas que foram sem despedir deixaram seus buracos negros. Por
mais que eu tente substituir por outra coisa, ou deixar para lá,
sempre aquele lugar estará ali. A ferida que não cicatriza, o
buraco que leva tudo de todos. O vazio que não se preenche. Gente de
verdade se despede, pois acredita que, apesar de tudo, um dia alguém
lhe amou.
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