quarta-feira, 17 de janeiro de 2018

2018 e let it go

Nas últimas semanas, com tempo livre para tudo demais, comecei a observar meus dentes. Eu tenho umas falhas. Irregulares. Bastante irregulares. Sempre que tiro uma foto sorrindo, dou zoom nos dentes e analiso as falhas. Por trás das falhas eu vejo lacunas.

Lacunas abertas que são o espaço de quem já foi. Feridas abertas. Consertar essas falhas demandarão tempo, esforço e dor. Fechar as lacunas também. Não é como se uma pessoa coubesse na falha dos meus dentes: existem lacunas que tem um tamanho específico, e se formos mais insistentes, talvez encontraremos cpf e rg de quem deixou a lacuna.

Estar de férias é bom porquê eu posso recuperar a energia. Recuperar demais. As vezes tudo já foi recuperado – e é hora de olhar o espelho. Os espaços entre dentes – lacunas na alma -, os quilinhos a mais balançando para lá e para cá, as espinhas explodindo dando a sensação de estar numa constante onda de ansiedade – que fisicamente não tenho sentido. Tudo que eu sinto ultimamente são os meus movimentos.

Semana passada recebi dois amigos em casa. Ela veio na quarta e conversamos sobre os sentimentos de ser quase adultos. Ele veio na quinta e eu pude sentir que não estou sozinho nas perdições do mundo. Não é como se a gente buscasse pessoas que sofrem como nós, mas ter alguém que te entenda e te abrace, jurando que tudo vai ficar bem - até porquê ele acredita veemente nisso para si -, é uma das melhores coisas que podem acontecer numa quinta-feira de janeiro.

No sábado conversei sério com meus pais e pude abrir a janela para o sol entrar e expulsar os vampiros. Agora sou mais eu. Olho para o espelho, vejo meus olhos retomarem o brilho. Não durmo mais com a TV ligada. Leio bastante (5 livros nesses 17 primeiros dias de 2018), converso muita coisa importante com uma amiga no Whatsapp, estudo para provas, penso no TCC, cuido dos projetos pessoais, interajo com pessoas no Instagram, e o sorriso ainda representa as lacunas.

Especificamente hoje, 17 de janeiro, eu acordei um pouco estranho. Seja o resfriado a quem culpo o ventilador ou as minhas energias me lembrando que eu poderia estar fazendo mais, ou saudade dos meus amigos, ou os fantasmas que estão rondando para ver se me assustam: hoje foi um dia difícil. Não que tenha acontecido algo grande demais, ou pesado demais, ou chato demais: foi um dia que eu vivi em terceira pessoa. “Vire à direita”. “Tempere o cará”.

Para finalizar esse dia, uma playlist de MPB. Não para parecer algo que não sou, ou forjar sentimentos que não são meus: é para abrir os canais e deixar as lágrimas lavarem as lacunas da alma. Será vontade de usar o cartão de crédito? Será vontade de reafirmar a minha identidade? Será o calor? Acho que não, não e não. Acho que são as lacunas, que deixam tudo silencioso demais e faz com que qualquer ruído ganhe um eco ensurdecedor, que dá ainda mais a noção de vago.

Tenho mais duas semanas, e o amanhã vai ser melhor.



Ou não.

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