sábado, 26 de setembro de 2020

Projeto de vida

De ontem pra hoje muita coisa me colocou para pensar. Na aula de um MBA em Gestão Escolar, o professor mostrou que todo o aprendizado e saberes que construímos ao longo da vida tem de estar de acordo com nosso Projeto de Vida. Projeto de Vida.


P-R-O-J-E-T-O D-E V-I-D-A


Eu não tenho um projeto de vida.


Aos 24 anos coleciono uma lista de projetos pessoais, financeiros acadêmicos não acabados. Coleciono também múltiplas tentativas de socorro que não foram levadas adiante. Coleciono tentativas de falar, falar, falar. Não problematize tanto, Daniboy. Foque na solução. Essas vozes não se silenciam.


Ao longo de 24 anos fui selecionando o que me servia e o que não servia e de repente nada serve de verdade. Compras e mais compras de roupa e não tenho o que usar quando saio. Livros e mais livros comprados e não tenho o que ler. Imagens e mais ideias de tatuagens para rabiscar no meu corpo, ideias de textos, frases de impactos, pseudo-projetos de pesquisa e nada. Nada. Nada. Nada.


Colecionei o caos do acúmulo e hoje tento me desfazer dele. Tento tudo o que começa com des: desacumular, desacelerar, descentralizar. Assumo o título de presunçoso e vou além, tendo des-saber, desfazer, des-conhecer, des-sentir. Mas sei que nessa confusão é impossível des-viver. E é sobre isso um projeto de vida. É sobre a vida.


Se minha terapeuta ler isso ela vai julgar que minha mente analítica está mais uma vez tentando ter o controle de todos os processos. E talvez seja. Talvez não. É.


O conceito de projeto de vida envolve um conceito simples, o da efetividade, que nada mais é fazer com que algo seja efetivo (faça o certo) e eficaz (e use a menor quantidade de recurso possível). E eu queria que esse projeto fosse tão simples como um projeto de pesquisa. Fosse fácil como sentar ao computador e escrever, re-escrever, escrever de novo. Ajusta daqui, copia uma citação dali e no final, pumba. Você está aprovado, pode ir fazer seu trabalho. Vai mestrar-se, filho.


Mas não.


Um projeto de vida acontece concomitante a vida. Um projeto de vida é projetado enquanto se vive. Ele é uma projeção. É um vir a ser. Vir a ser fluente em inglês, econômico, gestor, pai, professor, bem-sucedido. Esse projeto tem a ver com a sua visão - o que você quer - e a sua missão - qual o seu legado. Tem a ver com o seu propósito - porque você faz o que você faz. Tem a ver com os seus valores - quais os pilares que sustentarão a sua construção. tem a ver, até mesmo, com os seus papéis - como cada uma de suas personas age diante de determinadas demandas. 


E a gente sabe de tudo isso. Mas como ser?


Outro dia, publiquei num grupo de Facebook querendo saber como as pessoas se planejam. E as respostas foram de eu faço planejamento diário, semanal, mensal, bimestral, semestral, anual e trienal até eu não planejo nada; só vivo. As pessoas expuseram orgulhosas seus métodos, os aplicativos ou ferramentas de papéis que usavam. E a crescente lista de formas de ser e organizar-se (ou não) foi me gerando uma ânsia de compreender onde eu estou e onde eu quero estar.


Onde eu quero estar mesmo?


Esse texto termina aqui. Preciso sair correndo e por os meus pés no chão. Antes que tudo fique grande demais e eu não consiga administrar. Emoções às vezes são do tamanho do mundo: assumem a dimensão de uma jabuticaba.


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