domingo, 5 de setembro de 2021

Meu coração não parou.

Há o título de um filme que diz que se é necessário ouvir o som do coração e dizer que ele parou. Não, esse texto não é sobre Babenco e nem sobre Bárbara Paz. É sobre o cotidiano, o feito, o não feito e o perfeito. 

Dia desses encontrei um caderno da capa azul que comprei lá em 2013. Escrevia tudo nele: trechos das coisas que eu lia, trechos das coisas que eu escrevia, trechos de música, falas de séries. Havia ali o compromisso de registrar o que me alimentava ao longo dos dias. Pensando bem, é como se fosse um eletrocardiograma - ali estava escrito todos os movimentos do meu coração.

Pelos mais diversos motivos, ele se perdeu ao longo dos últimos anos. Ficou indo de uma gaveta para outra e a tentativa era se sempre o deixar a vista, mas ele sempre estava ao fundo. Não bastava a vontade de fazê-lo parte de algo - era necessário me esforçar para que ele estivesse e por algum motivo eu não dei conta. 

Não dei conta de um bocado de coisas, aliás. Não dei conta de perder os quilos que eu preciso desde - sempre? - que eu me recordo de mim, não dei conta de aprender inglês e nem de me tornar um exímio alguma coisa - escritor, tuiteiro, profissional, filho ou namorado.

Mas dei conta de tantas outras. Dei conta de ouvir meu coração e dizer que ele havia parado todas as vezes que eu perdia o desejo - ou desejava algo errado. Dei conta de encarar o sol depois de todas as tempestades e de lavar todas as louças que eu sujei. Dei conta também de pagar minhas faturas de cartão e de garantir que eu nunca farei algo no qual eu não acreditasse.

Dei conta de dizer que eu amava, que eu amei, que eu amo e projetar que talvez eu ame. Dei conta de sustentar um ritmo frenético e de jogar tudo para cima antes que tudo entrasse em colapso. E dei conta dos colapsos também - alguns de frente, outros me deitando na cama as duas da tarde. 

Dei conta de chorar sempre que meus olhos marejaram e de manter alimentados os meus cachorros. Dei conta de todas as conversas difíceis que precisava encarar e de descobrir palavras que nominavam aquilo que apertava forte no peito. Dei conta de todos os dias de sol - e de todas as noites chuvosas. 

Dei conta de fazer as malas. Dei conta de desfazer as malas. Dei conta de ir à loja e comprar uma mala nova. Dei conta de jurar que nunca mais precisaria de uma mala. Dei conta de voltar atrás e jurar que nunca mais juraria algo em nome do para sempre.

Dei conta de todas as segundas-feiras até o dia de hoje. De todas as sentadas na frente de minhas chefias e de todo dia ruim depois de cada uma dessas conversas.

Quis, quero e devo querer muito. Mas estou onde eu deveria estar e o mais importante é que meu coração bate mais acelerado do que nunca. 

7 comentários:

  1. Tô aqui tentando me recuperar desse texto. Na vdd não quero me recuperar, quero dá conta dessa avalanche de sentimentos. Simplesmente maravilhoso e necessário!

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  2. Marilene Gosmes Dias Moura.
    Para: Daniel Lucas.
    Lindo o texto. Fazer a mala é fácil o difícil é desfaze-la.
    Há decisões difíceis que contrariam as vezes e pode ser ou não, aquilo que desejamos, mas devemos buscar e lutar por tudo que acreditamos e que nos faz feliz. decisões podem quebrar nosso coração mas alimentam e aliviam nossa alma.

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    1. "Decisões podem quebrar nosso coração mas alimentam e aliviam nossa alma." Isso não poderia ter sido dito de outra forma.

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  3. Nossa Que textão! É daqueles que paramos para tentar respirar junto com as batidas do coração.

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    1. Escrever foi uma tentativa de respiro também. Estava com saudade desses textos que são uma porrada.

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