Há o título de um filme que diz que se é necessário ouvir o som do coração e dizer que ele parou. Não, esse texto não é sobre Babenco e nem sobre Bárbara Paz. É sobre o cotidiano, o feito, o não feito e o perfeito.
Dia desses encontrei um caderno da capa azul que comprei lá em
2013. Escrevia tudo nele: trechos das coisas que eu lia, trechos das coisas que
eu escrevia, trechos de música, falas de séries. Havia ali o compromisso de
registrar o que me alimentava ao longo dos dias. Pensando bem, é como se fosse
um eletrocardiograma - ali estava escrito todos os movimentos do meu coração.
Pelos mais diversos motivos, ele se perdeu ao longo dos últimos
anos. Ficou indo de uma gaveta para outra e a tentativa era se sempre o deixar
a vista, mas ele sempre estava ao fundo. Não bastava a vontade de fazê-lo parte
de algo - era necessário me esforçar para que ele estivesse e por algum motivo
eu não dei conta.
Não dei conta de um bocado de coisas, aliás. Não dei conta de
perder os quilos que eu preciso desde - sempre? - que eu me recordo de mim, não
dei conta de aprender inglês e nem de me tornar um exímio alguma coisa -
escritor, tuiteiro, profissional, filho ou namorado.
Mas dei conta de tantas outras. Dei conta de ouvir meu coração e
dizer que ele havia parado todas as vezes que eu perdia o desejo - ou desejava
algo errado. Dei conta de encarar o sol depois de todas as tempestades e de
lavar todas as louças que eu sujei. Dei conta também de pagar minhas faturas de
cartão e de garantir que eu nunca farei algo no qual eu não acreditasse.
Dei conta de dizer que eu amava, que eu amei, que eu amo e
projetar que talvez eu ame. Dei conta de sustentar um ritmo frenético e de
jogar tudo para cima antes que tudo entrasse em colapso. E dei conta dos
colapsos também - alguns de frente, outros me deitando na cama as duas da
tarde.
Dei conta de chorar sempre que meus olhos marejaram e de manter
alimentados os meus cachorros. Dei conta de todas as conversas difíceis que
precisava encarar e de descobrir palavras que nominavam aquilo que apertava
forte no peito. Dei conta de todos os dias de sol - e de todas as noites
chuvosas.
Dei conta de fazer as malas. Dei conta de desfazer as malas. Dei
conta de ir à loja e comprar uma mala nova. Dei conta de jurar que nunca mais
precisaria de uma mala. Dei conta de voltar atrás e jurar que nunca mais
juraria algo em nome do para sempre.
Dei conta de todas as segundas-feiras até o dia de hoje. De
todas as sentadas na frente de minhas chefias e de todo dia ruim depois de cada
uma dessas conversas.
Quis, quero e devo querer muito. Mas estou onde eu deveria estar
e o mais importante é que meu coração bate mais acelerado do que nunca.
Que lindo...amei❤️
ResponderExcluirTô aqui tentando me recuperar desse texto. Na vdd não quero me recuperar, quero dá conta dessa avalanche de sentimentos. Simplesmente maravilhoso e necessário!
ResponderExcluir<3
ExcluirMarilene Gosmes Dias Moura.
ResponderExcluirPara: Daniel Lucas.
Lindo o texto. Fazer a mala é fácil o difícil é desfaze-la.
Há decisões difíceis que contrariam as vezes e pode ser ou não, aquilo que desejamos, mas devemos buscar e lutar por tudo que acreditamos e que nos faz feliz. decisões podem quebrar nosso coração mas alimentam e aliviam nossa alma.
"Decisões podem quebrar nosso coração mas alimentam e aliviam nossa alma." Isso não poderia ter sido dito de outra forma.
ExcluirNossa Que textão! É daqueles que paramos para tentar respirar junto com as batidas do coração.
ResponderExcluirEscrever foi uma tentativa de respiro também. Estava com saudade desses textos que são uma porrada.
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